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ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

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se abriu, outro se frustrou, tantos esboça<strong>do</strong>s,<br />

como seria impossível guardar todas as vozes<br />

ouvidas ao almoço, ao jantar, na pausa da noite,<br />

um ano, depois outro, e outros e outros,<br />

todas as vozes ouvidas na casa durante quinze anos.<br />

Entretanto, devem estar em alguma parte: acumularam-se,<br />

embeberam degraus, invadiram canos,<br />

informaram velhos papéis, perderam a força, o calor,<br />

existem hoje em subterrâneos, umas na memória, outras na<br />

[argila <strong>do</strong> sono.<br />

Como saber? A princípio parece deserto,<br />

como se nada ficasse, e um rio corresse<br />

por tua casa, tu<strong>do</strong> absorven<strong>do</strong>.<br />

Lençóis amarelecem, gravatas puem,<br />

a barba cresce, cai, os dentes caem,<br />

os braços caem,<br />

caem partículas de comida de um garfo hesitante,<br />

as coisas caem, caem, caem,<br />

e o chão está limpo, é liso.<br />

Pessoas deitam-se, são transportadas, desaparecem,<br />

e tu<strong>do</strong> é liso, salvo teu rosto<br />

sobre a mesa curva<strong>do</strong>; e tu<strong>do</strong> imóvel.

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