fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura
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metafísicas:<br />
O Mundo não se fez para pensarmos nele<br />
(Pensar é estar doente dos olhos)<br />
Mas para olharmos para ele e estarmos <strong>de</strong> acordo...<br />
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...”<br />
Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />
................................................................. (Id., p. 204 e 205)<br />
Do trecho, dois versos especialmente importantes:<br />
- “Porque pensar é não compreen<strong>de</strong>r...”<br />
O pensamento, discursivo e associativo, impe<strong>de</strong> que se compreenda (se abranja,<br />
se assimile, se capte integralmente) a realida<strong>de</strong> como ela é. Isto é, o pensar obsta<br />
a “o conceito direto das coisas”.<br />
- “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...”<br />
Caeiro não possui filosofia: apenas sentidos, apenas a preocupação <strong>de</strong> captar a<br />
realida<strong>de</strong>, restaurando-a fi<strong>de</strong>dignamente, maxiobjetivamente. Não lhe cabe o<br />
interpretar as coisas, o ir em pensamento, em reflexão para além <strong>de</strong>las mesmas. Para<br />
ele a coisa é, se seria, o arquétipo um e único <strong>de</strong>la mesma. A coisa se manifesta em<br />
uma única dimensão, aquela em que ela existe. Assim, <strong>de</strong>ntro da ótica <strong>de</strong> Caeiro,<br />
não seria próprio se falar <strong>de</strong> outras dimensões, ou mais sutis, ou mais grosseiras, da<br />
coisa.<br />
Destarte, não possuindo filosofia, não agasalha, não po<strong>de</strong> agasalhar preocupações<br />
...........................................................<br />
“Pensar no sentido íntimo das cousas<br />
É acrescentado, como pensar na saú<strong>de</strong><br />
Ou levar um copo à água das fontes.<br />
O único sentido íntimo das cousas<br />
É elas não terem sentido íntimo nenhum.”<br />
................................................................. (FPOP, p. 141)<br />
É exatamente esta a missão <strong>de</strong> ACe: abordar as coisas, afastando-as <strong>de</strong> todo pré-<br />
conceito e pós-conceito. Atingi-las, a elas, elas-mesmas, no puramente sensível. Sem nada<br />
acrescentar-lhes, nem subtrair-lhes:<br />
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