fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura
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Das coisas e dos seres.”<br />
Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />
..................................... (FPOP, p. 199 e 200)<br />
Quando tudo per<strong>de</strong>sse, na <strong>de</strong>rrocada da vida, na iminência da morte, no esbulho<br />
imposto pelo "Estige irreversível", que lhe ficasse como legado, ainda que único, a consciência <strong>de</strong> ter<br />
vivido, <strong>de</strong> ter existido.<br />
E é exatamente a consciência estribada fortemente na razão que o faz indagar, ao<br />
consi<strong>de</strong>rar o arcabouço mítico do seu “mundo”:<br />
“Se a cada coisa que há um <strong>de</strong>us compete,<br />
Por que não haverá <strong>de</strong> mim um <strong>de</strong>us?<br />
Por que o não serei eu?”<br />
..................................... (FPOP, p. 221)<br />
Reis começa aqui a se aproximar da postura <strong>de</strong> Fernando Pessoa ele-mesmo, o<br />
reelaborador. “Esquece” sua função: coletar. Esse, entretanto, não é um momento <strong>de</strong> exceção:<br />
po<strong>de</strong>mos encontrá-lo, às vezes, às voltas com especulações profundas a respeito da essência do eu,<br />
como neste passo:<br />
“Vivem em nós inúmeros;”<br />
.........................................<br />
“ Há mais eus do que eu mesmo.”<br />
.................................................<br />
“Faço-os calar: eu falo.”<br />
....................................<br />
“Ignoro-os. Nada ditam<br />
A quem me sei: eu ‘screvo.” (FPOP, p. 225)<br />
Dos dois últimos versos, transparece a preocupação da imparcialida<strong>de</strong> parcial ou<br />
parcialida<strong>de</strong> imparcial, por parte <strong>de</strong> RR: luta tenazmente contra o modus sciendi do verda<strong>de</strong>iro<br />
operador: FP. O último verso parece refletir, num gesto <strong>de</strong> orgulho e <strong>de</strong> impotência, o estado <strong>de</strong><br />
ânimo férreo que RR se impôs; entretanto, o ter <strong>de</strong> afirmar o afirmado (e firmado!) revela, já, certa<br />
insegurança e o presságio do fim. Po<strong>de</strong>mos, em uma leitura <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, perceber aqui a<br />
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