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fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura

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Intercalamento, libertação, ida, <strong>de</strong>sfraldamento,<br />

Tu intercalador, libertador, <strong>de</strong>sfraldador, remetente.”<br />

Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />

.................................................................................. (FPOP, p. 274)<br />

Não basta ser o liberto: essa é uma sensação que está fadada a se esvaziar; é<br />

preciso mais: i<strong>de</strong>ntificar-se com o mesmo ato concessor <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, no afã <strong>de</strong> sondar as mesmas<br />

entranhas do abstrato que, num momento <strong>de</strong> exceção, se manifesta fugazmente, tenuemente, em um<br />

vórtice <strong>de</strong> sutilíssima concreção. Mas é preciso mais ainda: sentir a sensação daquele que<br />

experimenta em si o gáudio (ou o <strong>de</strong>sconforto?) <strong>de</strong> ser o libertador ...<br />

Mas, acima <strong>de</strong> tudo, urge sentir-se intercalado, sentir-se sempre e sempre como<br />

sendo o que está no meio: <strong>de</strong>terminados dois limites-coisas, quaisquer que sejam, por mais sutis que<br />

sejam os critérios <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma coisa e outra, ainda assim é sempre preciso ir, caminhar,<br />

buscar novos interstícios <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. É sempre possível para ele, Whitman, e para ele, Campos,<br />

novos <strong>de</strong>sfraldamentos, novas <strong>de</strong>scobertas, novas invenções ...<br />

E o seu papel, vê-lo-emos no <strong>de</strong>vido tempo, será o <strong>de</strong> simples remetente. Não para<br />

guardar, não para conservar para si, experiencia tudo <strong>de</strong> todas as maneiras, mas para remeter o<br />

coletado em termos <strong>de</strong> sensações para alguém que, lhe sendo superior, há <strong>de</strong> processar em outro<br />

nível, que não o das meras sensações, o riquíssimo acervo <strong>de</strong> dados e informações <strong>de</strong> que é (será)<br />

portador.<br />

Fernando Pessoa ele-mesmo:<br />

E é essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> panproteísmo que o faz, inci<strong>de</strong>ntalmente, se i<strong>de</strong>ntificar com<br />

............................................. .......<br />

“Sentir tudo <strong>de</strong> todas as maneiras.”<br />

.................................................... (FPOP, p. 278)<br />

Esse verso contém as mesmas palavras, a mesma expressão usada, por FP (Cf. op.<br />

cit., p. 407) em um passo já examinado neste trabalho. É bem verda<strong>de</strong> que há notável diferença entre<br />

um e outro contexto: para FP, o sentir verifica-se num movimento <strong>de</strong> síntese e para AdC, num<br />

sentido <strong>de</strong> análise. O sentir é, além disso, para AdC, a âncora que procura reter, precariamente, no<br />

sensível o seu extravasar-se.<br />

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