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fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura

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3) (...)”<br />

Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />

(FPO em P , p. 442)<br />

Nesse passo explicitamente lacunar, Fernando Pessoa <strong>de</strong>fine o Interseccionismo<br />

como um processo, um método, uma técnica, um meio <strong>de</strong> realizar o Sensacionismo. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

processo que mobiliza a consciência do artista revelando-lhe que, na verda<strong>de</strong>, não existe sensação<br />

pura. Toda sensação, tal como a recebemos em nossa consciência, é uma mistura, uma síntese <strong>de</strong><br />

várias sensações.<br />

Em outro momento, o Poeta, em um autógrafo famoso publicado na FPOP, página<br />

xxvii, esboça uma explicação esquemática do Interseccionismo, em que po<strong>de</strong>mos ler que ele não<br />

passa <strong>de</strong> um Sensacionismo a duas dimensões. E apresenta Chuva Oblíqua, <strong>de</strong> Fernando Pessoa<br />

ele-mesmo como um dos exemplos <strong>de</strong> poema elaborado por meio <strong>de</strong>sse processo.<br />

De posse <strong>de</strong>ssas informações, reflitamos um pouco.<br />

Quando duas dimensões se interseccionam, sobrepondo-se parcialmente, temos a<br />

geração <strong>de</strong> um terceiro elemento que não é nem um, nem outro, mas que traz em si características<br />

(moduladas) <strong>de</strong> ambos, que não havia como tais nas dimensões originais.<br />

Assim é que a intersecção da cor amarela com a azul produz o ver<strong>de</strong>, que é uma<br />

espécie <strong>de</strong> intercalamento entre o azul e o amarelo.<br />

Atentemos, agora, para as duas primeiras estrofes <strong>de</strong> Chuva Oblíqua, para<br />

procurarmos enten<strong>de</strong>r melhormente o processo.<br />

CHUVA OBLÍQUA<br />

"Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito<br />

E a cor das flores é transparente <strong>de</strong> as velas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s navios<br />

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra<br />

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...<br />

O porto que sonho é sombrio e pálido<br />

E esta paisagem é cheia <strong>de</strong> sol <strong>de</strong>ste lado...<br />

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