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fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura

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Que estou parado e ele correndo tanto...”<br />

Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />

Chegada é a hora tão esperada, tão in-esperada: agora cumpre conformar-se, num<br />

gesto impotente <strong>de</strong> raiva e <strong>de</strong> entrega:<br />

“Arre, acabemos com as distinções,<br />

As sutilezas, o interstício, o entre,<br />

A metafísica das sensações – “<br />

Já não há mais possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar com sua pesquisa, com suas sutilezas,<br />

interstícios, intercalamentos... Nada mais lhe resta a não ser entregar-se <strong>de</strong>finitivamente<br />

<strong>de</strong>finitivamente:<br />

“Acabemos com isto e tudo mais...”<br />

Ainda, um último estertor-aspiração:<br />

“Ah, que ânsia humana <strong>de</strong> ser rio ou cais!”<br />

Eis seu <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro e <strong>de</strong>salentado anelo: ser rio ou cais. Ser rio: mover-se,<br />

atravessar terras e terras, para, então, <strong>de</strong>saguar no mar: viver, sofrer, sorrir, para um dia, quiçá,<br />

mergulhar em uma realida<strong>de</strong> diferente, mais ampla, mais libertadora... Ser cais, fixar-se, fincar raízes<br />

no mundo, no real, na vida, ser gente, ser uma <strong>pessoa</strong> humana <strong>de</strong> fato e não a extensão <strong>de</strong>-tempo-<br />

marcado <strong>de</strong> uma outra <strong>pessoa</strong>.<br />

É realmente tocante, <strong>de</strong> partir o coração... O a<strong>de</strong>us é acerbamente triste, mas<br />

compreen<strong>de</strong>mos que é chegado o momento em que se consumem, ainda uma vez, as palavras do<br />

evangelista:<br />

“Convém que ele cresça e que eu diminua.” (João, 3:3)<br />

Há uma diferença: a questão não é diminuir, mas reduzir-se a nada...<br />

✞✞ ✞✞✞ ✞✞<br />

... e <strong>de</strong>sabitou <strong>de</strong> entre nós.<br />

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