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fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura

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Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />

O Realismo, reação <strong>de</strong>clarada contra o Romantismo, procura retomar do<br />

Classicismo a sua preocupação pelo objetivismo. A diferença resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que naquele, o<br />

objetivismo se exercia sobre o inteligível, e, neste, é sobre o sensível. Po<strong>de</strong>mos afirmar, à margem,<br />

corroborando os princípios da dialética hegeliana, que o Romantismo representa a antítese <strong>de</strong> que o<br />

Realismo é a síntese e o Classicismo a tese. O Realismo valoriza na Weltanschauung a observação.<br />

A realida<strong>de</strong>, objeto das preocupações do realista, é a captável pelo exercício dos sentidos físicos. É<br />

inerente a este estilo <strong>de</strong> época a tentativa <strong>de</strong> fazer uma <strong>de</strong>smistificação da realida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>spojá-la,<br />

quanto possível, do conceito (e do pré-conceito) e das projeções sentimentalizantes do eu sobre ela.<br />

Árvore, para o realista, é aquela árvore representada em todos os seus aspectos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, quer<br />

sejam valorativos, quer sejam <strong>de</strong>preciativos. Árvore é exatamente aquilo que ela é quando<br />

observada sem qualquer pré-conceito ou pós-conceito - no sensível.<br />

O Simbolismo surge como uma reação, uma revolta, contra a realida<strong>de</strong> apresentada<br />

nua e cruamente pelos realistas. O Simbolismo não po<strong>de</strong> admitir a concepção realista que se centra<br />

numa mundividência caracterizada pela dicomotização da realida<strong>de</strong> em dois compartimentos<br />

estanques, separados e incomunicáveis: o eu e o não-eu. Entre um e outro, havia <strong>de</strong>, por força da<br />

mesma complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong> do todo, haver algo em comum que possibilitasse a comunicação e<br />

interação entre todos os níveis e planos do universo. Mas não a mera projeção <strong>de</strong> sentimentos.<br />

Correspon<strong>de</strong> o aparecimento <strong>de</strong>ssa estética ao progresso da Psicologia e, ipso facto,<br />

à preocupação <strong>de</strong> estudar o homem interiormente, procurando investigar a origem e natureza dos<br />

impulsos que o conduzem à ação. O apelo do interiorizar-se logo é aceito e mostra-se uma aventura<br />

fascinante. Buscando surpreen<strong>de</strong>r o que <strong>de</strong> mais íntimo , inescrutável, in<strong>de</strong>finível, há no homem - o<br />

estado d’alma - , em toda sua fugacida<strong>de</strong>, na sua mesma intimida<strong>de</strong>, o <strong>poeta</strong> começa a intuir, no seu<br />

auto-escavar-se, uma realida<strong>de</strong> palpitante: a da sua i<strong>de</strong>ntificação com o outro, a princípio, através <strong>de</strong><br />

meros <strong>de</strong>nominadores comuns um tanto esbatidos. Há, a partir disso, a tomada <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong><br />

que exatamente no in<strong>de</strong>finível estava a potencialida<strong>de</strong> que haveria <strong>de</strong> permitir uma reelaboração<br />

mais fantástica e - quiçá - mais autêntica da realida<strong>de</strong>. O passo seguinte foi a noção <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação do eu com o todo. O caminho era promissor: a gran<strong>de</strong> angústia metafísica que, <strong>de</strong><br />

longa data, assolava o homem, po<strong>de</strong>ria ser enfrentada e, talvez, vencida. Mas, preocupando-se<br />

<strong>de</strong>mais com a investigação no plano abstrato, o investigador per<strong>de</strong>u-se num mar <strong>de</strong> impressões<br />

caóticas, que, por não serem submetidas a uma or<strong>de</strong>nação lógica, sistematicamente levaram ao<br />

naufrágio ... e quantas pérolas maravilhosas não produziram os simbolistas!<br />

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