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fernando pessoa, poeta onto-cósmico - Agulha Revista de Cultura

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Fernando Pessoa - Poeta Onto-<strong>cósmico</strong><br />

que está falando do Poeta é por ele surpreendido. O segundo caso, para um contexto em que alguém<br />

se dirige ao Poeta, com ele mantendo um diálogo.<br />

Parece-nos que a segunda alternativa é mais a<strong>de</strong>quada, por estar <strong>de</strong> acordo com a<br />

postura didática, que <strong>de</strong>ve, <strong>de</strong> alguma forma, animar a sua obra. Essa é, pelo menos, a intenção que<br />

<strong>de</strong>clarou. É como se o Poeta, auscultando a mente investigativo-interpretativo-fruidora do leitor (ou<br />

do espectador), a ele se dirigisse, buscando, a partir do p<strong>onto</strong> a que chegou o interlocutor, corrigir o<br />

seu fluxo <strong>de</strong> entendimento, usando para isso uma pedagogia <strong>de</strong> cunho altamente contrutivista...<br />

Voltemos, após essa breve digressão, que se nos figurou necessária, à linha-núcleo<br />

da argumentação, para enfatizar, ainda uma vez, o caráter <strong>de</strong> missão da sua obra.<br />

Pois é ... O que preten<strong>de</strong> Caeiro é ainda mais drástico, mais radical: é eliminar o<br />

relativo do relativo, o relativo do sensível, através do ver. Vale dizer: apreen<strong>de</strong>r a essência da<br />

existência!<br />

O que seria, então a felicida<strong>de</strong> para ACe? - Não há titubear: a coerência <strong>de</strong> uma<br />

postura coerente até na própria incoerência:<br />

“As quatro canções que seguem<br />

Separam-se <strong>de</strong> tudo o que eu penso,<br />

Mentem a tudo o que eu sinto,<br />

São do contrário do que eu sou.”<br />

..................................................... (FPOP, p. 148)<br />

Seguem-se quatro canções em que notamos exatamente aquilo que se<br />

opõe frontalmente ao i<strong>de</strong>ário temático, estético e filosófico <strong>de</strong> Caeiro: a intersecção<br />

entre o eu e o não-eu, das quais <strong>de</strong>stacamos estes versos:<br />

“No meu prato que mistura <strong>de</strong> Natureza!<br />

As minhas irmãs as plantas,<br />

As companheiras das fontes, as santas<br />

A que ninguém reza...”<br />

.................................... (FPOP, p. 148 e 149)<br />

obriga-nos a concluir: a felicida<strong>de</strong> para Caeiro estaria no a-tempo, no a-espaço, na incomoção, na<br />

ausência nirvânica <strong>de</strong> impulsos mentais condicionados e condicionantes.<br />

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