Revista Frutas e derivados - Edição 05 - Ibraf
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OPINIÃO<br />
Nos anos 80, a economia de<br />
Junqueirópolis/SP era baseada no café,<br />
cultivado em sua maioria por pequenos<br />
agricultores. Quando a cultura entrou<br />
em declínio, no final daquela década,<br />
a cidade viveu uma crise sem precedentes<br />
e assistiu à migração para os<br />
grandes centros, de cerca de 13 mil dos<br />
seus 27 mil moradores. Alguns agricultores<br />
decidiram, então, cultivar maracujá.<br />
Por causa do preço pago para a<br />
fruta, optou-se por formar uma associação,<br />
cujo grande incentivador foi um<br />
padre espanhol. Em junho de 1990,<br />
nascia a Associação Agrícola<br />
Junqueirópolis – AAJ - com quarenta e<br />
quatro associados.<br />
Quando se fala em associativismo,<br />
pensa-se que ele só funciona bem porque<br />
está ligado ao poder público. Em<br />
relação à AAJ, inicialmente, a Prefeitura<br />
Municipal cedeu um terreno e a mãode-obra<br />
para construção de um barracão.<br />
Posteriormente, houve dificuldades<br />
com a administração municipal. Mas<br />
essas dificuldades impulsionaram para o<br />
crescimento. Os sindicatos locais foram<br />
mobilizados e a Associação Comercial<br />
transformou-se numa grande parceira.<br />
A associação ganhou vida própria e se<br />
valorizou. Mais tarde, introduziu o cultivo<br />
da acerola no município. A partir<br />
de 97, a Prefeitura Municipal retomou<br />
o apoio inicial, porém, hoje, a associação<br />
tem receita e vida próprias. São 91<br />
produtores, dos quais 65 de acerola,<br />
sendo os demais de uva e café. Há 6<br />
câmaras frias, avaliadas em mais de um<br />
milhão de reais, financiadas e pagas pelos<br />
produtores. Há ainda salão para cursos<br />
e cozinha industrial onde as mulheres<br />
fazem licores, doces e geléias, que<br />
são comercializadas na feira livre da cidade<br />
e na própria sede. A associação<br />
investiu na formação técnica do produtor,<br />
necessária para a transição do plantio<br />
do café para frutas. Investiu, também,<br />
na formação humana com palestras sobre<br />
saúde, motivação, etc.<br />
O maior desafio para uma associação<br />
é a consciência da importância da<br />
soma de idéias, do capital de inteligência.<br />
Esse é um ponto chave. Outro ponto<br />
fundamental é a representatividade<br />
do grupo. Sendo representativo, passa<br />
a ser alvo de interesse dos órgãos de<br />
pesquisa. É o caso da AAJ, que tem um<br />
produto diferenciado: Junqueirópolis é<br />
a campeã da acerola em São Paulo. A<br />
fruta segue para o Japão, Estados Unidos<br />
e Europa, onde os consumidores<br />
são exigentes. A produção atende às regras<br />
do mercado internacional. A associação<br />
têm contado com o apoio do<br />
<strong>Ibraf</strong>, Sebrae, Cati e universidades, que<br />
pesquisam e indicam os melhores caminhos.<br />
A política do governo atual<br />
também colabora com linhas de crédito<br />
a juros baixos e programas como o<br />
Venda Antecipada, da Conab, que adianta<br />
o valor da transação em conta exclusiva.<br />
O projeto da AAJ, de venda de<br />
polpa - que tem maior valor agregado<br />
-, é o sexto assinado no Estado. É um<br />
projeto que cria oportunidades para os<br />
produtores associados, pois a forma de<br />
ajudar através de grupos organizados é<br />
mais barata e mais eficiente.<br />
O atual governo tem enfatizado a<br />
importância do associativismo, cuja força<br />
o País ainda desconhece. À medida<br />
que as pessoas se organizam, todos ganham<br />
porque cada um coloca o seu<br />
conhecimento, o que tem de melhor,<br />
à disposição. Em meu caso, tenho somente<br />
4 anos de escola. Para suprir as<br />
deficiências, há uma boa equipe, com<br />
qualidades e habilidades diferentes das<br />
minhas. Quem participa de uma associação<br />
deve dar o melhor de si, da sua<br />
essência, do seu tempo, da sua experiência<br />
de vida. O dinheiro não é o diferencial,<br />
mas o capital da experiência à<br />
disposição de todos. Com a grande escola<br />
de vida no associativismo, nós associados<br />
aprendemos também a acreditar<br />
mais em Deus, pois nos propusemos<br />
a mobilizar a cidade inteira e a cidade<br />
se mobilizou, graças a Ele. As grandes<br />
mudanças vêm da base e não de<br />
A falta de sucesso das cooperativas é a falta de participação dos sócios.<br />
cima. O associativismo ajudou, e muito,<br />
a cidade a se recuperar, inclusive,<br />
voltou a crescer, pois está hoje com 18<br />
mil habitantes.<br />
A falta de sucesso das cooperativas<br />
decorre da falta de participação dos<br />
sócios, que, geralmente, abandonam a<br />
equipe eleita e, então, a cooperativa<br />
acaba. Associação é comprometimento;<br />
é participação. Não tem outra forma<br />
para melhorar as condições existentes.<br />
Quando sou convidado a fazer palestras,<br />
sempre digo: viver em comunidade<br />
é difícil, viver sozinho é impossível.<br />
Até em casa há dificuldade, quando<br />
se isola. Quando o homem descobrir a<br />
importância da comunidade se organizará<br />
em todas as áreas, não somente<br />
para produção. O associativismo ganhará<br />
força à medida que o homem evoluir<br />
no sentido humano, deixar do “eu”<br />
e tiver humildade para viver junto.<br />
Osvaldo Dias<br />
Presidente da Associação Agrícola<br />
Junqueirópolis/SP