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A Arte do Fabrico DO Açúcar

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CAPITULO II<br />

Da planta e limpas das canas e da diversidade que há nelas<br />

Feita a escolha da melhor terra para a cana, roça-se, queima-se e limpa-se, tiran<strong>do</strong>lhe<br />

tu<strong>do</strong> o que podia servir de embaraço, e logo abre-se em regos, altos palmo e meio<br />

e largos <strong>do</strong>is, com seu camalhão no meio, para que, nascen<strong>do</strong> a cana, não se abafe e<br />

nestes regos ou se plantam os olhos em pé ou se deitam as canas em pedaços, três ou<br />

quatro palmos compri<strong>do</strong>s, e, se for cana pequena, deita-se também inteira, uma junta à<br />

outra, ponta com pé; cobrem-se com a terra moderadamente. E depois de poucos dias,<br />

brotan<strong>do</strong> pelos olhos, começam pouco a pouco a mostrar sua verdura à flor da terra,<br />

pegan<strong>do</strong> facilmente e crescen<strong>do</strong> mais ou menos, conforme a qualidade da terra e o favor<br />

ou contrariedade <strong>do</strong>s tempos. Mas se forem muito juntas, ou se na limpa lhes chegarem<br />

muito a terra, nao poderão filhar, como é bem.<br />

A planta da cana nos lugares altos da Baía começa desde as primeiras águas no fim de<br />

Fevereiro ou nos princípios de Março e se continua até ao fim de Maio e nas baixas e<br />

várzeas (que são mais frescas e húmidas) planta-se também nos meses de Julho e Agosto<br />

e por alguns dias de Setembro. Toda a cana que não for seca ou viciada nem de canu<strong>do</strong>s<br />

muito pequenos serve para plantar.<br />

De ser a terra nova e forte, segue-se o crescer nela a cana muito viçosa e a esta<br />

chamam cana brava, a qual, a primeira e segunda vez que se corta, não costuma fazer<br />

bom açúcar por ser muito aguacenta. Porém, daí por diante, depois de esbravejar a<br />

terra, ainda que cresça extraordinariamente, é tão boa no rendimento como formosa na<br />

aparência, e destas às vezes se acham algumas altas sete, oito e nove palmos, e tão<br />

bem postas no canavial como os capitães nos exércitos.<br />

A melhor cana é a de canu<strong>do</strong> compri<strong>do</strong> e limpo e as que têm canu<strong>do</strong>s pequenos e barba<strong>do</strong>s<br />

são as piores. Nasce o terem canu<strong>do</strong>s pequenos ou da seca ou <strong>do</strong> frios porque uma e<br />

outra coisa as apertam e o terem barbas procede de lhes faltarem com alguma limpa a<br />

seu tempo.<br />

Começa-se a limpar a cana tanto que tiver monda ou erva de tirar. No Inverno a erva<br />

que se tira torna logo a nascer e as limpas mais necessárias são aquelas primeiras<br />

que se fazem para que a cana possa crescer e o capim a não afogue, porque depois de<br />

crescida vence melhor as ervas menores. E assim vemos que os primeiros vícios são os<br />

que botam a perder um bom natural. As canas que se plantam nos outeiros são<br />

ordinariamente mais limpas que as que se plantam nas várzeas, porque assim como o<br />

correr a água <strong>do</strong> outeiro é causa que se não criem nele tão facilmente outras ervas,<br />

assim o ajuntar-se ela na várzea é causa de ser esta sempre muito húmida e<br />

conseguintemente muito disposta para criar de novo o capim.<br />

Por isso, em umas terras às vezes não bastam três limpas e em outra o lavra<strong>do</strong>r com a<br />

segunda descansa, conforme os tempos mais ou menos chuvosos, assim como há filhos tão<br />

dóceis que com a primeira admoestação se emendam e para outros não bastam repeti<strong>do</strong>s<br />

castigos.<br />

As socas também (que são as raízes das canas cortadas a seu tempo ou queimadas por<br />

velhas ou por caídas, de sorte que se não possam cortar ou por desastre) servem para<br />

plantas porque se não morrerem pelo muito frio ou pela muita seca, chegan<strong>do</strong>-lhes a<br />

terra, tornam a brotar e podem desta sorte renovar o canavial por cinco ou seis anos<br />

e mais. Tanto vale a indústria para tirar proveito ainda <strong>do</strong> que parecia inútil e se<br />

deixaria por perdi<strong>do</strong>. Verdade é que, cansan<strong>do</strong> a terra, perde também a soca o vigor e,<br />

depois de seis ou sete anos, a cana se acanha e facilmente se murcha até ficar seca e<br />

azougada. E por isso não se há-de pretender da terra nem da soca mais <strong>do</strong> que pode<br />

dar, particularmente se não for ajudada com algum benefício, e a advertência <strong>do</strong> bom<br />

lavra<strong>do</strong>r consiste em plantar de tal sorte sucessivamente a cana que, cortan<strong>do</strong>-se a<br />

velha para a moenda, fique a nova em pé para a safra vin<strong>do</strong>ura e desta sorte alimente<br />

com a sua verdura a esperança <strong>do</strong> rendimento que se prepara, que é o prémio <strong>do</strong> seu<br />

continua<strong>do</strong> trabalho. Plantar uma tarefa de canas é o mesmo que plantar no espaço de<br />

trinta braças de terra em quadra. Finalmente, porque a diversidade das terras e <strong>do</strong>s<br />

climas pede diversa cultura, é necessário informar-se e seguir o conselho <strong>do</strong>s velhos,<br />

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