18.04.2013 Views

A Arte do Fabrico DO Açúcar

A Arte do Fabrico DO Açúcar

A Arte do Fabrico DO Açúcar

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPITULO XI<br />

Do mo<strong>do</strong> de cozer e bater o mela<strong>do</strong> nas tachas<br />

Estan<strong>do</strong> já o cal<strong>do</strong> purifica<strong>do</strong> e coa<strong>do</strong>, passa a cozer-se nas tachas, ajudadas de maior<br />

fogo e chama da que hão mister as caldeiras, contanto que os fun<strong>do</strong>s tenham a grossura<br />

bastante para resistir à maior actividade que neste lugar se requer. E se o mela<strong>do</strong> se<br />

levantar de sorte que ameace transbordar botan<strong>do</strong>-lhe um pouco de sebo logo amaina e<br />

se cala. O que talvez também faria uma boa razão, se houvesse quem a sugerisse no<br />

tempo em que a indignação quer sair fora de seus limites. Dizem que, se se botasse<br />

qualquer licor aze<strong>do</strong> nas caldeiras ou nas tachas, como, "verbi gratia", sumo de limão<br />

ou outro semelhante, o mela<strong>do</strong> nunca se poderia coalhar nem condensar como se pretende<br />

e alegam casos segui<strong>do</strong>s. Porém, isto não parece ser certo falan<strong>do</strong> de qualquer casta<br />

de licor aze<strong>do</strong> senão <strong>do</strong> de limão, porque já houve quem botou no cal<strong>do</strong> cachaça azeda<br />

em quantidade bastante, ou por fazer peça, ou por enfa<strong>do</strong> e impaciência, e contu<strong>do</strong><br />

coalhou muito bem a seu tempo. Só de alguns ânimos se verifica, que por um leve<br />

desgosto botam a perder um grande cúmulo, e não de quaisquer benefícios. O certo é<br />

que, em passan<strong>do</strong> o mela<strong>do</strong> ou mel para as tachas, pede maior vigilância e atenção <strong>do</strong>s<br />

tacheiros, banqueiro e soto-banqueiro e mestre, porque este propriamente é o lugar em<br />

que obra como mestre inteligente e aonde é necessário to<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> e artifício.<br />

Passan<strong>do</strong>, pois, o mela<strong>do</strong> <strong>do</strong> parol de coar para o terno das tachas, corre por cada uma<br />

delas ordenadamente e pára em cada uma quanto for necessário e não mais para o fim<br />

que em cada qual se pretende. Na primeira tacha, que se chama a de receber, ferve e<br />

começa a cozer-se e se lhe tiram as escumas mais finas, que chamam netas, e se botam<br />

com uma pequena escumadeira em uma forma que aí está posta e, se as quiserem<br />

aproveitar, como é bem, farão delas, no fim da semana, um pão de açúcar somenos,<br />

porque esta escuma não torna à tacha como torna a <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> às caldeiras. Da tacha de<br />

receber, aonde está pouco tempo, passa-se o mela<strong>do</strong> com uma passadeira de cobre (que é<br />

<strong>do</strong> feitio de uma pomba pequena) para a segunda tacha, que chamam da porta, e aqui,<br />

continuan<strong>do</strong> a ferver e engrossar, se lançar de si para a borda alguma imundície,<br />

tira-se e limpa-se ao re<strong>do</strong>r com um vasculho, que é como um pincel ou escova de<br />

embira, amarra<strong>do</strong> na ponta de uma vara, e nesta tacha se deixa estar mais tempo, até<br />

ficar já meio cozi<strong>do</strong>. Daqui, com a mesma passadeira, se bota na terceira tacha, que<br />

chamam de cozer, porque, ainda que nas outras também se coza, contu<strong>do</strong> aqui acaba de<br />

se cozer e de se condensar perfeitamente, até estar em seu ponto para se bater e isto<br />

o há-de julgar o mestre ou em seu lugar o banqueiro, pelo corpo e grossura que tem.<br />

E, estan<strong>do</strong> desta sorte, chama-se mel em ponto, grosso suficientemente e compacto e já<br />

disposto para passar à quarta tacha, que chamam tacha de bater, aonde se mexe com uma<br />

batedeira, que é semelhante à escumadeira, mas com seu beiço e sem furos, e bate-se<br />

para se não queimar e, quan<strong>do</strong> o tem bem bati<strong>do</strong> e com bastante cozimento, o levantam<br />

com a mesma batedeira sobre a tacha ao alto que pode ser, e a isso chamam desafogar,<br />

no que os tacheiros mostram destreza singular e continuam assim mais ou menos,<br />

conforme pedem as três temperas que se hão-de fazer <strong>do</strong> açúcar que há-de ir para as<br />

formas, das quais temperas, por serem tão necessárias e diferentes, será bem falar no<br />

capítulo seguinte.<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!