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PROÉMIO<br />
Quem chamou às oficinas em que se fabrica o açúcar engenhos<br />
acertou verdadeiramente no nome. Porque quem quer que as vê e<br />
considera com a reflexão que merecem é obriga<strong>do</strong> a confessar que<br />
são uns <strong>do</strong>s principais partos e invenções <strong>do</strong> engenho humano, o<br />
qual, como pequena porção <strong>do</strong> divino, sempre se mostra no seu<br />
mo<strong>do</strong> de obrar admirável. Dos engenhos, uns se chamam reais,<br />
outros, inferiores, vulgarmente engenhocas. Os reais ganharam<br />
este apeli<strong>do</strong> por terem todas as partes de que se compõem e<br />
todas as oficinas perfeitas, cheias de grande número de<br />
escravos, com muitos canaviais próprios e outros obriga<strong>do</strong>s à<br />
moenda, e principalmente por terem a realeza de moerem com<br />
água, à diferença de outros, que moem com cavalos e bois e são<br />
menos provi<strong>do</strong>s e aparelha<strong>do</strong>s, ou pelo menos com menor perfeição<br />
e largueza, das oficinas necessárias e com pouco número de<br />
escravos para fazerem, como dizem, o engenho moente e corrente.<br />
E porque algum dia folguei de ver um <strong>do</strong>s mais afama<strong>do</strong>s que há<br />
no Recôncavo à beira-mar da Baía, a quem chamam o engenho de<br />
Sergipe <strong>do</strong> Conde, movi<strong>do</strong> de uma louvável curiosidade, procurei,<br />
no espaço de oito ou dez dias que aí estive, tomar notícia de<br />
tu<strong>do</strong> o que o fazia tão celebra<strong>do</strong> e quase rei <strong>do</strong>s engenhos<br />
reais. E valen<strong>do</strong>-me das informações que me deu quem o<br />
administrou mais de trinta anos com conhecida inteligência e<br />
com acrescentamento igual à indústria e da experiência de um<br />
famoso mestre <strong>do</strong> açúcar, que cinquenta anos se ocupou neste<br />
ofício com venturoso sucesso e <strong>do</strong>s mais oficiais de nome, aos<br />
quais miudamente perguntei o que a cada qual pertencia, me<br />
resolvi a deixar neste borrão tu<strong>do</strong> aquilo que na limitação <strong>do</strong><br />
tempo sobredito apressadamente, mas com atenção, ajuntei e<br />
estendi com o mesmo estilo e mo<strong>do</strong> de falar claro e chão que se<br />
usa nos engenhos, para que os que não sabem o que custa a<br />
<strong>do</strong>çura <strong>do</strong> açúcar a quem o lavra o conheçam e sintam menos dar<br />
por ele o preço que vale, e quem de novo entrar na<br />
administração de algum engenho tenha estas notícias práticas<br />
dirigidas a obrar com acerto, que é o que em toda a ocupação se<br />
deve desejar e intentar. E, para maior clareza e ordem, reparti<br />
em vários capítulos tu<strong>do</strong> o que pertence a esta droga e a quem<br />
por ela e nela trabalha, começan<strong>do</strong>, depois de relatar as<br />
obrigações de cada qual, desde a primeira origem <strong>do</strong> açúcar na<br />
cana até sua cabal perfeição nas caixas, conforme o meu<br />
limita<strong>do</strong> cabedal, que pelo menos servirá para dar a outros, de<br />
melhor capacidade e pena mais ligeira e bem aparada, algum<br />
estímulo de aperfeiçoar este embrião. E se alguém quiser saber<br />
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