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A Arte do Fabrico DO Açúcar

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CAPITULO IV<br />

Do barro que se bota nas formas <strong>do</strong> açúcar, qual deve ser e como se há-de amassar e se<br />

é bem ter no engenho olaria<br />

O barro com que se purga o açúcar tira-se <strong>do</strong>s apicuns que, como temos dito, são as<br />

coroas que faz o mar entre si e a terra firme e as cobre a maré. Vem este em barcos,<br />

canoas ou balsas, que são duas canoas juntas com paus atravessa<strong>do</strong>s e sobre eles<br />

tábuas, nas quais se amontoa o barro. Chega<strong>do</strong> ao engenho põe-se em lugar separa<strong>do</strong> e<br />

daí passa a secar-se dentro da casa das fornalhas sobre um andar de paus segura<strong>do</strong> com<br />

esteios que chamam jirau, sobre o cinzeiro quan<strong>do</strong> tem seu borralho, que é a cinza<br />

misturada com brasas. E ainda que se seque em quinze dias, contu<strong>do</strong> aí se deixa<br />

toman<strong>do</strong> a seu tempo a quantidade que for necessária para barrear as formas já cheias,<br />

como se dirá em seu lugar. Seco se desfaz com macetes, que são paus para pisar, e daí<br />

se bota em uma canoa velha ou cocho grande de pau e se vai desfazen<strong>do</strong> com água,<br />

moven<strong>do</strong>-o e amassan<strong>do</strong>-o com seu ro<strong>do</strong> o negro amassa<strong>do</strong>r, que se ocupa neste triste<br />

trabalho, pois os outros escravos que cortam e trazem cana e os que obram na moenda,<br />

nas caldeiras, nas tachas, na casa de purgar e nos balcões, sempre têm em que<br />

petiscar, e só este miserável e os que metem lenha nas fornalhas passam em seco. E<br />

ainda que depois to<strong>do</strong>s tenham sua parte na repartição da garapa, contu<strong>do</strong> sentem muito<br />

o trabalho sem este limita<strong>do</strong> alívio entre dia. Mas não faltam parceiros que se<br />

compadeçam da sua sorte, dan<strong>do</strong>-lhes já uma cana, já um pouco de mel ou de açúcar e,<br />

quan<strong>do</strong> faltasse nos outros a compaixão, não faltaria a eles a indústria para buscarem<br />

seu remédio, tiran<strong>do</strong> <strong>do</strong>nde quer quanto podem.<br />

O sinal de estar bem amassa<strong>do</strong> o barro é não ter já godilhões, que são uns<br />

torrõezinhos ainda não desfeitos, e então está em seu ponto quan<strong>do</strong>, botan<strong>do</strong>-lhe um<br />

pedaço de telha ou um caco de forma, se sustém na superfície sem ir ao fun<strong>do</strong>. Do<br />

cocho se tira com uma cuia e se bota em tachos de cobre e neles o levam para a casa<br />

de purgar, aonde com um reminhol de cobre se tira <strong>do</strong>s tachos e se reparte pelas<br />

formas, quan<strong>do</strong> for tempo, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que se dirá mais abaixo.<br />

Ter olaria no engenho, uns dizem que escusa maiores gastos, porque sempre no engenho<br />

há necessidade de formas, tijolo e telha. Porém, outros entendem o contrário porque a<br />

fornalha da olaria gasta muita lenha de armar e muita de caldear e a de caldear há-de<br />

ser de mangues, os quais, tira<strong>do</strong>s, são a destruição <strong>do</strong> marisco, que é o remédio <strong>do</strong>s<br />

negros. E, além disto, a olaria quer serviço de seis ou sete peças, que melhor se<br />

empregam no canavial ou no engenho, quer oleiro com soldada, roda e aparelho e quer<br />

apicuns ou barreiro <strong>do</strong>nde se tire bom barro e tu<strong>do</strong> isto pede muito gasto e com muito<br />

menos se compram as formas e as telhas que são necessárias. O melhor conselho é meter<br />

um crioulo em alguma olaria, porque este ganha a metade <strong>do</strong> que faz e em um ano chega<br />

a fazer três mil formas, das quais o senhor se pode valer com pouco dispêndio. Ten<strong>do</strong>,<br />

porém, o senhor <strong>do</strong> engenho muita gente, lenha e mangues para mariscar de sobejo,<br />

poderá também ter olaria e servirá esta oficina para grandeza, utilidade e comodidade<br />

<strong>do</strong> engenho.<br />

CAPITULO V<br />

Do mo<strong>do</strong> de purgar o açúcar nas formas e de to<strong>do</strong> o benefício que se Ihe faz na casa de<br />

purgar até se tirar<br />

Entran<strong>do</strong> as formas na casa de purgar, se deitam sobre as andainas e se lhes tira o<br />

taco que lhes meteram no tendal e logo, com um fura<strong>do</strong>r agu<strong>do</strong> de ferro, de comprimento<br />

de <strong>do</strong>is palmos e meio, se furam os pães à força de pancadas, usan<strong>do</strong> para isso <strong>do</strong><br />

macete, e fura<strong>do</strong>s se levantam e endireitam as formas sobre as tábuas que chamam de<br />

furos, entran<strong>do</strong> por eles quanto basta para se susterem seguras e assim se deixam por<br />

quinze dias sem barro, começan<strong>do</strong> logo a purgar e pingan<strong>do</strong> pelo buraco que tem o<br />

primeiro mel, o qual, recebi<strong>do</strong> debaixo nas bicas, corre até dar no seu tanque. Este<br />

mel é inferior e dá-se no tempo <strong>do</strong> Inverno aos escravos <strong>do</strong> engenho repartin<strong>do</strong> a cada<br />

qual cada semana um tacho e <strong>do</strong>is a cada casal, que é o melhor mimo e o melhor remédio<br />

que têm. Outros, porém, o tornam a cozer ou o vendem para isso aos que fazem dele<br />

açúcar branco bati<strong>do</strong> ou estilam aguardente.<br />

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