CAPÍTULO VI Do mo<strong>do</strong> de tirar, mascavar e secar o açúcar Chega<strong>do</strong> o tempo de tirar o açúcar das formas, se passarão um dia muito claro tantas quantas pode receber o balcão de secar e passam às costas <strong>do</strong>s negros ou em padiolas da casa de purgar para o balcão de mascavar. E quanto ao ser o dia muito claro, é ponto de grande advertência, porque se o açúcar se humedecer, ainda que o tornem a pôr ao sol, nunca mais torna a ser perfeito como era; assim como o que ficou de um ano para o outro perde de tal sorte o vigor e alvura que nunca mais a torna a cobrar, propriedade também da pureza que, uma vez ofendida, nunca torna a ser o que foi. Preside a to<strong>do</strong> este benefício o caixeiro e corre por sua conta o que agora direi: ao pé <strong>do</strong> balcão, que chamam de mascavar, se aventam as formas sobre um couro, que vem a ser, bulir nelas devagar com as bocas viradas para o dito couro, para que saiam bem os pães, os quais postos sucessivamente por um negro sobre um tol<strong>do</strong> que está estendi<strong>do</strong> sobre este balcão por mão de uma negra (à qual chamam mãe <strong>do</strong> balcão) se lhes tira com um facão to<strong>do</strong> aquele açúcar mal purga<strong>do</strong> e de cor parda que tem na parte inferior, e isto se diz mascavar e ao tal açúcar chamam depois mascava<strong>do</strong>. E entretanto outra sua companheira que é das mais práticas tira com um machadinho <strong>do</strong> mesmo mascava<strong>do</strong> o mais húmi<strong>do</strong>, que chamam pé da forma ou cabucho, e este torna para a casa de purgar em outras formas até acabar de se enxugar e logo outras negras quebram com toletes os torrões <strong>do</strong> mascava<strong>do</strong> sobre um tol<strong>do</strong>, que também há-de ir ao balcão de secar. A perfeição <strong>do</strong>s pães consiste em terem pouco mascava<strong>do</strong> e darem duas arrobas e meia de açúcar branco, que, conforme a medida das formas da Baía, é muito bom rendimento. Se quiserem fazer caras de açúcar para mimos, o caixeiro cortará aqui mesmo com um facão a primeira parte <strong>do</strong> pão, de sorte que endireitada e aplainada tenha uma arroba de peso; e estas, depois de estarem ao sol, empalham-se ou encouram-se e vão para o Reino. Também, se quiser fazer lascas, cortará o pão (depois de se lhe tirar o mascava<strong>do</strong>) em seis ou oito partes e as endireitará todas de quatro cantos em quadra, para irem tão vistosas como <strong>do</strong>ces. E queren<strong>do</strong> fazer fechos ou caixas de encomenda, escolherá, da parte <strong>do</strong> açúcar que couber a quem as manda fazer, o mais fino, que é o das caras das formas, até <strong>do</strong>ze arrobas por fecho e trinta até trinta e cinco por caixa. E <strong>do</strong> que temos dito até agora se entenderá bem o que querem dizer estes nomes que significam várias repartições de açúcar, a saber: caixa, fecho, pão, cara, lasca, torrão e migalhas, guardan<strong>do</strong> para outro capítulo o dar notícia de várias qualidades e diferenças de açúcar. Passan<strong>do</strong>, pois, <strong>do</strong> balcão de mascavar para o balcão de secar: levam-se em primeiro lugar para ele tantos tol<strong>do</strong>s quantos são necessários para o açúcar que naquele dia se há-de secar. E se for de diversos <strong>do</strong>nos, se conhecerá a repartição que cabe a cada qual, pelos tol<strong>do</strong>s continua<strong>do</strong>s na mesma fileira, se pertencerem ao mesmo, ou descontinua<strong>do</strong>s, se forem de diversos senhores; e o que se diz <strong>do</strong> açúcar branco, se há-de dizer também <strong>do</strong> mascava<strong>do</strong>, reparti<strong>do</strong> pelo mesmo estilo nas suas próprias fileiras. Isto feito, levam os pães para os tol<strong>do</strong>s e com um pau grande e re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> no cabo em que se pega e no remate de feitio chato, como uma lança sem ponta (ao qual chamam quebra<strong>do</strong>r ou moleque de quebrar), quebram em quatro partes os pães e cada uma destas em outras quatro e logo outros com facões dividem as mesmas em torrões e estes sucessivamente se tornam a partir com toletes em outros torrões menores; e, finalmente, depois de estarem já por algum tempo ao sol, acabam-se de quebrar em torrõezinhos pequenos. E guarda-se de propósito esta ordem em quebrar o açúcar para que, ten<strong>do</strong> dentro alguma humidade, quebra<strong>do</strong> pouco a pouco se entese e não se faça logo em migalhas ou em pó. Estan<strong>do</strong> assim estendi<strong>do</strong>, pegam nas pontas <strong>do</strong>s tol<strong>do</strong>s e, levantan<strong>do</strong>-as, fazem em cada tol<strong>do</strong> um montão e entretanto aquentam-se as tábuas e os tol<strong>do</strong>s e logo tornam a abrir aqueles montes com ro<strong>do</strong>s e, desta sorte, as partes que eram interiores ficam expostas ao sol e as outras estendidas sobre as pontas <strong>do</strong>s tol<strong>do</strong>s sentem o calor que eles e as tábuas ganharam. Espalha<strong>do</strong>, torna a mexer-se com ro<strong>do</strong>s de cambuá, como eles dizem, a saber: um de uma banda e outro de outra, empurran<strong>do</strong> cada um de sua parte o açúcar e puxan<strong>do</strong> por ele por mo<strong>do</strong> oposto ao que faz no mesmo tol<strong>do</strong> o negro fronteiro até acabar de secar. E se de repente aparecer alguma nuvem que ameace dar chuva, logo acode toda a gente, ainda (se for necessário) a que trabalha na moenda, pejan<strong>do</strong> o engenho, até se recolher nos mesmos tol<strong>do</strong>s o açúcar 52
dentro da casa de encaixar ou em outra parte coberta e daqui torna outra vez para o balcão em outro dia claro, estan<strong>do</strong> as tábuas enxutas. Que se o tempo der lugar de enxugar perfeitamente o açúcar no mesmo dia no balcão, passará logo (<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que agora direi) ao peso e se encaixará com sua regra. 53
- Page 1 and 2: FUNCHAL-MADEIRA EMAIL:CEHA@MADEIRA-
- Page 3 and 4: • CAPITULO IX :Das caldeiras e co
- Page 5 and 6: PROÉMIO Quem chamou às oficinas e
- Page 7 and 8: CAPITULO 1 LIVRO I Do cabedal que h
- Page 9 and 10: CAPITULO II Como se há-de haver o
- Page 11 and 12: quais, posto que mereçam maior res
- Page 13 and 14: consentindo risadas, nem conversaç
- Page 15 and 16: serviço como é bem; saber os temp
- Page 17 and 18: A soldada do mestre do açúcar nos
- Page 19 and 20: CAPITULO VIII Do caixeiro do engenh
- Page 21 and 22: depois de estarem casados os escrav
- Page 23 and 24: CAPÍTULO X Como se há-de haver o
- Page 25 and 26: CAPITULO XII Como se há-de haver o
- Page 27 and 28: LIVRO II CAPITULO I Da escolha da t
- Page 29 and 30: aos quais ensinou muito o tempo e a
- Page 31 and 32: CAPITULO IV Do corte da cana e sua
- Page 33 and 34: CAPITULO V Do engenho ou casa de mo
- Page 35 and 36: de dois ou três palmos, de sapupir
- Page 37 and 38: efresquem e limpem os aguilhões e
- Page 39 and 40: Cortam-se os paus no mato com macha
- Page 41 and 42: miúda, para que, levantada, chegue
- Page 43 and 44: caldo, que chamam três meladuras,
- Page 45 and 46: CAPITULO XI Do modo de cozer e bate
- Page 47 and 48: aos que assistem na casa das caldei
- Page 49 and 50: outros, juiz, enxó, verrumas, mart
- Page 51: Passados os quinze dias, daí por d
- Page 55 and 56: CAPITULO VIII De várias castas de
- Page 57 and 58: CAPITULO IX Dos preços antigos e m
- Page 59 and 60: CAPÍTULO XI Que custa uma caixa de
- Page 61 and 62: Por 5600 caixas de branco macho a 7
- Page 63: porto, não se livra das tormentas