CAPITULO VI Do mo<strong>do</strong> de moer as canas e de quantas pessoas necessita a moenda Moem-se as canas meten<strong>do</strong> algumas delas limpas da palha e da lama (que para isso se for necessário se lavam) entre <strong>do</strong>is eixos, aonde apertadas fortemente se espremem, meten<strong>do</strong>-se na volta que dão os eixos os dentes da moenda nas entrosas para mais as apertar e espremer entre os corpos <strong>do</strong>s eixos chapea<strong>do</strong>s que vem a unir-se nas voltas e, depois delas passadas torna-se de outra parte a passar o bagaço para que se esprema mais e de to<strong>do</strong> o sumo ou licor que conserva. E este sumo (ao qual depois chamam cal<strong>do</strong>) cai da moenda em uma cocha de pau que está deitada debaixo da ponte <strong>do</strong>s aguilhões e daí corre por uma bica a um parol meti<strong>do</strong> na terra, que chamam parol <strong>do</strong> cal<strong>do</strong>, <strong>do</strong>nde se guinda com <strong>do</strong>is caldeirões ou cubos para cima com roda, eixo e correntes e vai para outro parol que está em um sobradinho alto, a quem chamam guinda, para daí passar para a casa das caldeiras, aonde se há-de limpar. No espaço de vinte e quatro horas mói-se uma tarefa re<strong>do</strong>nda de vinte e cinco até trinta carros de cana e em uma semana das que chamam solteiras (que vem a ser: sem dias santos) chegam a moer sete tarefas e o rendimento competente é uma forma ou pão de açúcar por foice, a saber, quanto corta um negro em um dia. Nem o fazer mais açúcar depende de moer mais cana, mas de ser a cana de bom rendimento, a saber, bem açucarada, não aguacenta nem velha. Se meterem mais cana ou bagaço <strong>do</strong> que convém, haverá risco de se quebrar o rodete e a moenda dará de si e rangerá na parte de cima e poderá ser que se quebre algum aguilhão. Se a água que move a roda for muita, moerá tanta cana que não se lhe poderá dar vazão na casa das caldeiras e o cal<strong>do</strong> azedará no parol de coar, porque se não pode cozer em tanta quantidade nem tão depressa nas tachas. E por isso o feitor da moenda e o mestre <strong>do</strong> açúcar hão-de ver o que convém para que se não perca a tarefa. O lugar de maior perigo que há no engenho é o da moenda, porque se por desgraça a escrava que mete a cana entre os eixos, ou por força <strong>do</strong> sono, ou por cansada, ou por qualquer outro descui<strong>do</strong>, meteu desatentadamente a mão mais adiante <strong>do</strong> que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos se lhe não cortarem logo a mão ou o braço apanha<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> para isso junto da moenda um facão, ou não forem tão ligeiros em fazer parar a moenda, divertin<strong>do</strong> com o peja<strong>do</strong>r a água que fere os cubos dasrodas de sorte que dêem depressa a quem padece de algum mo<strong>do</strong> o remédio. E este perigo é ainda maior no tempo da noite em que se mói igualmente como de dia, posto que se revezem as que metem a cana por suas esquipações, particularmente se as que andam nesta ocupação forem boçais ou costumadas a se emborracharem. As escravas de que necessita a moenda, ao menos, são sete ou oito, a saber: três para trazer cana, uma para a meter, outra para passar o bagaço, outra para consertar e acender as candeias, que na moenda são cinco, e para limpar o cocho <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> (a quem chamam cocheira ou calumbá) e os aguilhões da moenda e refrescá-los com água para que não ardam, servin<strong>do</strong>-se para isso <strong>do</strong> parol da água que tem debaixo <strong>do</strong> rodete tomada da que cai <strong>do</strong> aguilhão, como também para lavar a cana enlodada, e outra, finalmente, para botar fora o bagaço, ou no rio, ou na bagaceira, para se queimar a seu tempo. E se for necessário botá-lo em parte mais distante não bastará uma só escrava, mas haverá mister outra que a ajude, porque de outra forma não se daria vazão a tempo e ficaria embaraçada a moenda. Sobre o parol <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> que, como temos dito, está meti<strong>do</strong> na terra há uma guindadeira que continuamente guinda para cima com <strong>do</strong>is cubos o cal<strong>do</strong> e todas as sobreditas escravas têm necessidade de outras tantas que as revezem depois de encherem o seu tempo, que vem a ser a metade <strong>do</strong> dia e a metade da noite, e todas juntas lavam de vinte e quatro em vinte e quatro horas com água e vasculhos de piaçaba toda a moenda. A tarefa das guindadeiras é guindar cada uma três paróis de cal<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> for tempo para encher as caldeiras, e logo outra outros três suceden<strong>do</strong> desta sorte uma à outra, para que possam aturar no trabalho. E para o bom governo da moenda, além <strong>do</strong> feitor que atende a tu<strong>do</strong> neste lugar mais que em outros, parte de dia e parte de noite, há um guarda ou vigia<strong>do</strong>r da moenda, cujo ofício é atentar, em lugar <strong>do</strong> feitor, que a cana se meta e se passe bem entre os eixos, que se despeje e tire o bagaço, que se 36
efresquem e limpem os aguilhões e a ponte e, suceden<strong>do</strong> algum desastre na moenda, ele é o que logo acode e manda parar. 37
- Page 1 and 2: FUNCHAL-MADEIRA EMAIL:CEHA@MADEIRA-
- Page 3 and 4: • CAPITULO IX :Das caldeiras e co
- Page 5 and 6: PROÉMIO Quem chamou às oficinas e
- Page 7 and 8: CAPITULO 1 LIVRO I Do cabedal que h
- Page 9 and 10: CAPITULO II Como se há-de haver o
- Page 11 and 12: quais, posto que mereçam maior res
- Page 13 and 14: consentindo risadas, nem conversaç
- Page 15 and 16: serviço como é bem; saber os temp
- Page 17 and 18: A soldada do mestre do açúcar nos
- Page 19 and 20: CAPITULO VIII Do caixeiro do engenh
- Page 21 and 22: depois de estarem casados os escrav
- Page 23 and 24: CAPÍTULO X Como se há-de haver o
- Page 25 and 26: CAPITULO XII Como se há-de haver o
- Page 27 and 28: LIVRO II CAPITULO I Da escolha da t
- Page 29 and 30: aos quais ensinou muito o tempo e a
- Page 31 and 32: CAPITULO IV Do corte da cana e sua
- Page 33 and 34: CAPITULO V Do engenho ou casa de mo
- Page 35: de dois ou três palmos, de sapupir
- Page 39 and 40: Cortam-se os paus no mato com macha
- Page 41 and 42: miúda, para que, levantada, chegue
- Page 43 and 44: caldo, que chamam três meladuras,
- Page 45 and 46: CAPITULO XI Do modo de cozer e bate
- Page 47 and 48: aos que assistem na casa das caldei
- Page 49 and 50: outros, juiz, enxó, verrumas, mart
- Page 51 and 52: Passados os quinze dias, daí por d
- Page 53 and 54: dentro da casa de encaixar ou em ou
- Page 55 and 56: CAPITULO VIII De várias castas de
- Page 57 and 58: CAPITULO IX Dos preços antigos e m
- Page 59 and 60: CAPÍTULO XI Que custa uma caixa de
- Page 61 and 62: Por 5600 caixas de branco macho a 7
- Page 63: porto, não se livra das tormentas