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Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil

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imagens, nós as adquirimos através do aprendizado, pois para compreender o mundo é necessário<br />

que ele nos seja antes ensinado naquilo em que consiste. Os especialistas em neurociência vêm<br />

tentando explicar os problemas sofridos por pessoas com perturbação da memória, tentando<br />

descobrir aquilo que pode ter falhado. Entretanto, poucos discutiram ou se preocuparam até agora<br />

em questionar esse postulado fundamental: a existência de memórias/lembranças estocadas<br />

permanentemente em nosso cérebro. É o que faz Rosenfield em sua obra, colocando essa hipótese<br />

em questão, e não é apenas a “natureza” da memória que é discutida por ele. Pois se as lembranças<br />

não são as imagens bem definidas que a tradição e o senso comum nos apresentavam como um fato,<br />

é preciso, então, rever completamente nossas idéias sobre a “natureza” do pensamento e sobre a<br />

“natureza” dos nossos atos, juntamente como sobre seus suportes biológicos no decorrer do<br />

funcionamento cerebral. Rosenfield contesta os dogmas vigentes e, em especial, a doutrina da<br />

“localização funcional” – pela qual a localização precisa das lesões cerebrais podia ser detectada a<br />

partir dos sintomas apresentados pelos pacientes e confirmados pela autópsia. A neurologia<br />

moderna está talvez fundamentada em hipóteses erradas em relação às funções cerebrais, afirma<br />

Rosenfield (1998, p. 21), e a teoria da “localização funcional” não se sustentaria sem a crença na<br />

existência em nosso cérebro de lembranças (memórias) sob a forma de traços identificáveis,<br />

cuidadosamente classificados e gravados. Até mesmo Sigmund Freud contestou a validade da teoria<br />

da localização funcional, sem, entretanto, abandonar a noção de “memória permanente”.<br />

A tese de Rosenfield contesta que a percepção represente necessariamente uma imagem exata do<br />

meio exterior, e que existam no cérebro centros de percepção e de reconhecimento independentes<br />

uns dos outros. Em contraposição, afirma que o cérebro cria categorias de estímulos, apoiando-se<br />

tanto sobre a experiência passada como sobre as necessidades e os desejos atuais; esta operação de<br />

classificação constitui o princípio da percepção e da reconstituição. O que vemos não resulta de<br />

uma análise de dados, mas daquilo que vimos e vivemos no passado, ou naquele exato momento.<br />

No decorrer dos contatos iniciais com o mundo exterior, colocamos em prova diferentes modos de<br />

organizar nossas sensações, e aqueles que permitem um comportamento racional ou útil são<br />

reforçados em seguida. De acordo com essa teoria, as experiências, os sentimentos e os<br />

pensamentos diferem radicalmente de uma pessoa para outra, e essas variações não podem se<br />

explicar por processos tão imutáveis quanto o processamento de dados.<br />

“Nosso meio ambiente passa por contínuas mudanças e devemos ser capazes de enfrentá-las”,<br />

afirma Rosenfield, não por meio de imagens invariáveis memorizadas previamente (como no tipo<br />

MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE. 19

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