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Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil

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memórias trazidas pelas revoluções e outros eventos políticos, pela passagem da agricultura à<br />

indústria e aos serviços, pela passagem da indústria pesada à eletrônica, pela migração<br />

campo/cidade, pela escolarização, pelas relações entre sexos e gerações, etc.<br />

Por outro lado, a memória coletiva tornou-se objeto de preocupação dos Estados que fizeram dela<br />

um instrumento nas escolas, nas cerimônias, nos museus e mesmo nos nomes de ruas. A<br />

nacionalização da memória coletiva e a sua transmissão pelo Estado são fatos importantes de nossa<br />

história. Nos últimos cinqüenta anos, uma revolução das mídias, possível graças à revolução<br />

científica dos séculos XVII e XVIII, multiplicou instrumentos de observação e medida. A<br />

fotografia, a fonografia, o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo criaram conjuntamente uma nova<br />

memória coletiva, objetivada sob a forma de imagens, discos, filmes, fitas magnéticas, cassetes<br />

acessíveis a um público crescente. Essa revolução dos meios de comunicação permite reavivar o<br />

passado, revendo cenas, ouvindo sons, conferindo ao passado uma dimensão sensível. É um novo<br />

tipo de memória que se sobrepõem à memória escrita, assim como essa se sobrepôs à memória oral.<br />

Enquanto a história, em algumas de suas manifestações, se afasta deliberadamente da memória<br />

coletiva, muitas vezes até se opondo a esta, por seu lado, a memória coletiva não pode prescindir da<br />

história. Ora, entre história e memória coletiva não há limites muito claros. A heterogeneidade da<br />

história resulta do fato de que ela é constituída em parte pela memória coletiva, em parte pelo<br />

conhecimento mediato, resultando em duas maneiras de estabelecer laços com o passado, embora<br />

sejam estes laços de diferente natureza.<br />

Em conclusão: a memória segue o pivô central de nossa existência social, pois ela é a única maneira<br />

de fazer triunfar a vida sobre a morte, o espírito sobre o nada, estabelecendo a cadeia das gerações.<br />

Ela é tão mais ativa quanto menos precisa de recursos para lembrar-se. E ela é tão mais viva, quanto<br />

é menos carregada de memórias mortas 7 . Mas, se os historiadores são, naturalmente, prepostos da<br />

memória, convém tomar cuidado e resistir contra certa moda ambiente que tudo quer transformar<br />

em memória. O dever de memória não deve, sobretudo, conduzir a sacralizações. Já admoestou<br />

Jacques Le Goff: “A memória não busca salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Ela<br />

deve ser uma liberação e não uma escravidão, como por vezes se vê. Toda a memória humana é,<br />

como já foi dito, memória de alguém. <strong>Memória</strong> de alguém que muda e se transforma. Ao mudar,<br />

buscando uma <strong>identidade</strong> variável, tanto o indivíduo quanto sua memória constroem “uma<br />

<strong>identidade</strong> narrativa”, ou seja, uma <strong>identidade</strong> construída na mudança. Tal singularidade justifica<br />

MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE.<br />

7

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