manipuladas para aparecer na imprensa brasileira, como mostra Joaquim Marçal em suas pesquisas. Partindo do princípio de que uma fotografia pode “incomodar”, sob o pretexto de que ela revela coisas embaraçosas, é preciso, portanto, se interrogar sobre qual o poder de uma imagem. Qual seja a resposta a esta questão, constatamos também que inúmeros procedimentos técnicos estão à disposição do fotógrafo para criar ou reforçar o sentido desta mesma imagem: teleobjetivas, lentes especiais como a grande angular, planos e contra-planos etc... Os meios são infinitos, à condição de saber usá-los corretamente, dando-lhes uma função e um significado precisos. Do ponto de vista das Ciências Humanas, a fotografia, em suas diferentes formas, pode fornecer informações importantes sobre fatos históricos e, mais amplamente, ajudar a compreensão da evolução de uma sociedade. O retrato, em particular, gênero que se tornou uma prática fotográfica importante, informa sobre os diferentes indivíduos que constituem um grupo social ou uma classe, sobre seus hábitos de vida e sua postura. Alguns fotógrafos buscam, também, ultrapassar a vocação documental ou funcional da fotografia, bem como a representação de uma “imagem” social ou de celebridades, para se interessar por anônimos, por desconhecidos, sem pertença a nenhuma classe ou categoria específica. O gênero evoluiu e se diversificou e a maneira de fotografar as pessoas mudou. Houve razões técnicas para isso, notadamente no século XIX. O foco e a revelação, assim como a iluminação, não eram os mesmos, e seu aperfeiçoamento influiu sobre a prática fotográfica. Mas o contexto artístico, social e midiático também influencia e determina as diferentes aplicações possíveis da fotografia. Trata-se sempre de representar um indivíduo. Mas, além de captar a expressão de uma personalidade, o retrato pode revelar uma atividade profissional particular e, mais exatamente, as relações entre a imagem e o que sabemos sobre o fotografado. “Numa determinada época, as pessoas eram assim; viviam, assim”. A fotografia constata e revela, sem artifício. O personagem foi captado, num momento de sua vida, pelo fotógrafo, em sua atividade. Ao “congelar” um instante da vida, o fotógrafo, por sua vez, coloca em evidência o antes e o depois da vida de uma pessoa. E a fotografia também nos incentiva a adivinhar aquilo que está fora do cenário fotografado, do campo visual do fotógrafo. E uma das qualidades da imagem fotográfica reside precisamente neste poder de evocação, no fato de que ela pode suscitar, naquele que observa, o desejo de conhecer mais, de imaginar, de reconstituir interiormente, a partir da visão de um destes momentos, o conjunto de uma vida. A partir da observação de fotografias, algumas questões podem ser colocadas para que os professores tentem responder, junto com seus alunos: Quem está MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE. 30
epresentado? Por quê? E como? É a fotografia funcionando como objeto de memória. Bibliografia BARTHES, Roland. La chambre claire: notes sur la photographie . Paris, Gallimard, 1980. BAURET, Ganriel. Approches de la photographie . Paris, Nathan, 1992. BOURDIEU, Pierre. Un art moyen. Essai sur les usages sociaux de la photographie . FREUND, Giséle. Photographie et sociétè. Paris, Seuil, 1974. MARÇAL, Joaquim. His tória da foto-reportagem no <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro, Campus, 2004. Nota 1 Historiadora e escritora. Consultora dessa série. MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE. 31
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