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Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil

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a expressão tornada célebre: “memória coletiva”. Ele busca, inicialmente, demonstrar que o social<br />

está inscrito na memória individual, assim como a memória está inscrita no coração mesmo da<br />

sociedade. Para ele, a memória mais individual é social, pois seus quadros são feitos de noções que<br />

refletem uma significação social e a visão de mundo de um grupo. O fio condutor que percorre seu<br />

livro é que a lembrança é uma reconstrução do passado a partir da representação que um grupo<br />

possui de seus interesses atuais.<br />

Halbwachs insiste – como, aliás, o faz em chave literária Pedro Nava, – na importância da memória<br />

familiar, memória fecunda e cuja história é feita de trocas e intercâmbios com outras famílias.<br />

Explica o autor que, mesmo se o conjunto de lembranças difere de uma família a outra, as relações<br />

entre grupos familiares são formalizadas em uma norma coletiva, uma imagem ideal de si: o espírito<br />

de família. A especificidade da memória familiar reside na acumulação simultânea de uma memória<br />

interna, feita das relações entre a família, e da memória externa, feita pelo contato com outros<br />

grupos. Nessa obra, o autor mostra que não há conflito entre a pluralidade de memórias, lembrando<br />

ainda o papel de outras memórias coletivas como a religiosa ou a de classe. Halbwachs constata,<br />

contudo, a existência de uma crise da memória diante das várias memórias coletivas da<br />

modernidade. Halbwachs nota que, mais do que ontem, hoje os grupos sociais nascem, crescem e<br />

morrem em tempo muito curto para que sua própria história lhes sirva de lição e de ética. Por outro<br />

lado, ele apela à pesquisa e à construção de um lugar de memória capaz de atravessar toda a<br />

sociedade, lugar onde se possa avaliar e unificar a pluralidade das memórias coletivas.<br />

Tais “lugares de memória”, onde se cruzam as memórias pessoais, familiares e outras, podem ser,<br />

como demonstrou Pierre Nora 6 , lugares materiais ou não materiais, onde se encarnam e<br />

cristalizam as memórias de uma nação: uma bandeira, um monumento, uma igreja, uma imagem,<br />

um sabor; reconstrói-se, por essas memórias, a representação que um povo faz de si mesmo. Todos<br />

os países vivem sob o reino da memória. Para os historiadores, contudo, não se trata apenas de<br />

constatar quais são os lugares desta memória, mas de encontrar, também, o modelo sobre o qual tal<br />

memória é construída.<br />

Tal como a história, a memória coletiva é, em cada momento, heterogênea, composta de vários<br />

estratos cuja sucessão traduz sua trajetória histórica intrínseca. E tal como a história, ela viveu, ao<br />

longo dos últimos séculos, transformações que a tornam muito diferente do que ela já foi. Seus<br />

extratos mais antigos já foram recobertos, marginalizados, por vezes, mesmo apagados pelas<br />

MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE.<br />

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