Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil
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prosperidade da comunidade, essa prática difundiu-se por toda a bacia do Mediterrâneo no mundo<br />
antigo. No Egito, destacavam-se os cultos à deusa Ísis e ao touro Ápis. Na Pérsia, as festas eram<br />
para a deusa da fecundidade Anaitis e para o deus do sol Mitra. Na Fenícia, celebrava-se Artarte,<br />
deusa da fecundidade, e Adônis, seu divino amante. Em Creta, come-morava-se a Grande Mãe,<br />
deusa protetora da terra e da fertilidade, sempre representada por uma pomba.<br />
Com grande número de figuras divinas e narrativas místicas, essas festas foram o veículo pelo qual<br />
o homem descobriu o encanto do reino da fantasia e da utopia. Era o momento em que ele se<br />
desligava dos seus problemas cotidianos e podia sentir a vida sem nela deixar de reinscrever<br />
simbolicamente a morte. Ou, como diria séculos depois o filósofo Nietzsche, “a arte é a única<br />
justificativa possível para o sofrimento humano ”. Do gosto pelas festas agrárias surgem as festas<br />
pagãs, dedicadas ao culto do belo e onde profano e sagrado se combinam.<br />
Na região da Mesopotâmia, tivemos as Sáceas, festas inspiradas nas licenciosidades sexuais e na<br />
inversão de papéis entre servos e senhores. Na Grécia, foi oficializado, no século VII a.C., o culto a<br />
Dionísio. Deus da transformação e da metamorfose, Dionísio era comemorado no início da<br />
primavera, quando sua imagem chegava a Atenas transportada por embarcações com rodas, com<br />
mulheres e homens nus em seu interior. Em terra, a procissão era acompanhada por um cortejo de<br />
ninfas e saudada em êxtase pela multidão de mascarados. A festa acabava no templo sagrado de<br />
Lenaion, onde se consumava a união de Dionísio com os fiéis, gerando abundância e fertilidade. Em<br />
370 a.C., foram as Bacanais romanas que marcaram época, data em que o culto a Dionísio chegava<br />
a Roma com o nome de Baco. As bacantes, aos gritos de Evoi! Evoi! 2 , por ocasião das orgias em<br />
homenagem a Evan, alcunha de Baco, cometeram tantos excessos que as Bacanais foram proibidas<br />
em 186 a.C. pelo Senado Romano. Como a proibição não vingou por muito tempo, as Bacanais<br />
voltaram com mais vigor ainda no tempo do Império. Depois vieram as Saturnálias romanas em<br />
homenagem a Saturno, deus da agricultura dos antigos romanos. Expulso do Olimpo por seu filho<br />
Júpiter, Saturno era celebrado com festas marcadas pelas transgressões sociais. Havia também as<br />
Lupercais em homenagem a Pã, deus dos pastores e protetor dos rebanhos. Essas festas eram<br />
celebradas em 15 de fevereiro, data em que os Lupercos (sacerdotes de Pã) saíam nus dos templos<br />
banhados em sangue de cabra e, depois de lavados com leite, eram cobertos com capas de pele de<br />
bode e corriam atrás das pessoas. Quando alcançadas, as virgens acreditavam tornarem-se férteis e<br />
as grávidas de livrarem-se das dores do parto.<br />
MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE. 23