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Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil

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No espírito de muita gente, a fotografia está associada à idéia de documento . Quer dizer: ela serve<br />

para testemunhar uma realidade, e em seguida, para lembrar a existência desta mesma realidade. O<br />

tempo tem aqui um papel fundamental, em particular, do ponto de vista histórico e emocional,<br />

quando a fotografia é testemunha de mudanças, de transformações físicas e materiais, de<br />

desaparecimento de coisas ou de morte de entes queridos. Na palavra documento há também, de<br />

forma difusa, a idéia de singularidade. Explico: a fotografia testemunha de maneira única e própria.<br />

Ela tem mais crédito do que o texto escrito e é tão importante quanto única.<br />

Associada, por exemplo, às grandes viagens do século XIX, ela se constituiu num novo instrumento<br />

de descoberta do mundo; depois, cada vez mais aperfeiçoado, este instrumento informava<br />

visualmente e contribuía para o conhecimento e para a compreensão dos fatos. Primeiro como<br />

substituta do caderno de desenhos do viajante, depois associada à exploração científica, a fotografia<br />

deu a volta ao mundo. Geógrafos e etnógrafos passaram a considerá-la como um documento<br />

objetivo, despido de emoções. Claude Lévy-Strauss deixou de sua estadia na África e no <strong>Brasil</strong> um<br />

importante documentário com este sabor. Acompanhada de notas dos escritores, a fotografia<br />

permite, muitas vezes, mostrar uma imagem precisa, despida de detalhes que precisam, muitas<br />

vezes, de páginas e páginas de descrição. Paralelamente, ela também irá servir para inventariar<br />

nosso <strong>patrimônio</strong> histórico assim como para alimentar o que os americanos batizaram de “street<br />

photography”, ou fotografia das ruas: a rua torna-se, deste ponto de vista, o teatro no qual se<br />

desenrolam dramas alegres ou tristes, fascinando o espectador fotógrafo. Isto, sem contar a<br />

contribuição do fotojornalismo, iniciada em 1855 durante a Guerra de Secessão, nos EUA,<br />

fotojornalismo a que se atribui a faculdade de mostrar uma ação na sua mais imediata consecução.<br />

Podemos pensar que a fotografia nos mostra uma certa imagem do real e não a realidade, pura e<br />

simples? Sim. Existe uma ampla discussão sobre a objetividade fotográfica. Cada vez mais os fatos<br />

são manipulados pela imprensa, ou recuperados sem autorização do fotógrafo, servindo a tal e qual<br />

causa, reforçando a crítica a determinado fato ou personagem político. A fotografia, na maior parte<br />

das vezes, serve para condenar conflitos: no caso da Guerra do Vietnã, por exemplo, ela foi de<br />

fundamental importância para mudar o rumo da opinião pública americana sobre o engajamento do<br />

país, numa luta tão sangrenta. A tal ponto que, durante a Guerra do Golfo, em 1991, um forte<br />

controle foi exercido sobre as atividades da imprensa que cobriam, in loco , o conflito. Não se<br />

exibiam, por exemplo, os ataúdes de soldados americanos mortos em combate. Durante a Guerra do<br />

Paraguai, outro exemplo, fotos de membros da família imperial em meio ao campo de batalha foram<br />

MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE. 29

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