Memória, patrimônio e identidade - TV Brasil
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PROPOSTA PEDAGÓGICA<br />
<strong>Memória</strong>, <strong>patrimônio</strong> e <strong>identidade</strong><br />
Maria de Lourdes Parreiras Horta 1<br />
Mary Del Priore 2<br />
O “baú de ossos”: história como parte da memória & memória como objeto da história<br />
Amigo professor: você se lembra? Você se lembra de um dia, de uma casa, de um rosto, de um<br />
objeto? Pois este dia, esta casa, este rosto, este objeto podem ajudá-lo a ensinar aos seus alunos<br />
sobre as relações entre memória e história.<br />
Vamos tomar um exemplo: a festa do Divino Espírito Santo, na zona rural. Tomemos, também, um<br />
objeto de memória : a bandeira da festa. Quanta informação histórica nós podemos relacionar a este<br />
artefato simbólico: desde a costura e o bordado da bandeira, feito em pontos portugueses durante<br />
serões em que as mulheres contavam histórias, até a música cantada quando a bandeira sai de casa<br />
para a procissão, o içamento no dia do santo padroeiro, entre salvas de foguete, ao peditório de<br />
esmolas que é feito com a bandeira, até a procissão e suas origens históricas em Portugal. Como<br />
muitos sabem, esta festa religiosa foi estabelecida pela rainha D. Isabel (1271-1336) e é uma das<br />
mais intensas devoções portuguesas. Vinda para o <strong>Brasil</strong> no século XVI, tinha palanques armados<br />
para a coroação do Imperador do Divino, que podia ser uma criança ou um adulto, que podia ser<br />
branco, negro ou mulato, que presidia a festa e gozava de direitos majestáticos. O sucesso é tão<br />
grande que D. Pedro I é coroado Imperador, pois o povo tinha mais conhecimento da festa do que<br />
da idéia de rei. Ora, a partir de um objeto, o professor pode analisar vários temas e subtemas: por<br />
exemplo, a história de uma festividade, sua função no seio de uma determinada comunidade, as<br />
formas de sociabilidade em torno das festas, o papel dos gêneros (homens e mulheres) na festa,<br />
festa e poder político, festa e <strong>identidade</strong> de classe ou de etnia, festa e conceito de nação.<br />
Mas há outras coisas importantes, a saber. Por exemplo, a definição de “memória” : do latim<br />
memorïs , memória é a faculdade de lembrar e conservar estados de consciência passados e tudo<br />
quanto a eles está relacionado. Para Santo Agostinho, a coisa começa com uma frase: “eu me<br />
lembro de mim mesmo”. Para um escritor, a memória é “o dom de fazer aparecer o passado”. Para<br />
outro, Pedro Nava, um dos maiores memorialistas de nossa língua, a memória tem ainda outra<br />
MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE.<br />
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