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Baixe o Livro - poeminflamado

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A performatividade latente nos impressos do poeta nos revela uma<br />

das diversas faces do hibridismo característico de sua obra: a função<br />

política e estética de oralização da escrita. Numa verdadeira reação à<br />

normatização da sociedade e da arte (operada por mecanismos hegemônicos<br />

de controle social, pela interdição à memória e à voz do “subjugado”<br />

e pelo primado da escrita) o autor faz questão de reiterar a<br />

legitimidade da milenar cultura de transmissão oral do conhecimento.<br />

Tanto na dinâmica dos seus recitais e performances, quanto na comunicabilidade<br />

diferenciada de sua palavra escrita.<br />

Vale salientar que a construção visual do poema se faz elemento<br />

dinâmico na poesia escrita de França, corroborando para uma relação<br />

integrativa entre forma e conteúdo, para uma possibilidade dinâmica,<br />

ativa da palavra. Tal diálogo gráfico encontrava correspondência na realização<br />

oral desses poemas, em ocasião dos recitais: através do ritual da<br />

voz em ação, da palavra indo e vindo, do corpo do poeta como suporte<br />

para a arte e para a celebração. Através da simbólica travessia de fronteiras:<br />

na integração do poeta com a plateia, no improviso, no fenômeno<br />

concreto do interlocutor como coautor daquela celebração, daquela<br />

performance, daquele acontecimento artístico, corporal, espiritual.<br />

Também a bem-estruturada e apurada escritura de França requer<br />

uma genuína disponibilização de todos os sentidos de quem com<br />

ela interage. Nela, há sempre uma ação: personagens e eu lírico que<br />

agem, atuam, transformam. Sua poética é tecida não por imagens,<br />

mas por cenas. Algumas delas recorrentes: espetáculo, luzes acesas,<br />

cortinas abertas; o subir e o descer as ladeiras da cidade; os sonhos, a<br />

ilusão, as máscaras, as armaduras; portas se abrindo. Grandes narrativas<br />

e poemínimos – estes mais presentes no Cafuné – assaltam-nos<br />

com o refinado senso de humor e o erotismo provocante do poeta. O<br />

imaginário da gênese e da morte e uma lírica amorosa lúcida chegam<br />

pisando forte nas linhas e entrelinhas da poesia de França. Sobretudo,<br />

dela se intui a questão da urgência da comunicabilidade: interpessoal,<br />

endereçada, mas também num plano maior, do social.<br />

Assim, num contexto em que muitas vezes o ato de produção artística<br />

por si só se faz empenho, engajamento, resistência cultural, o<br />

poeta assume para si a função de instrumentalizar o leitor para essa<br />

travessia: da passividade ao protagonismo, “da sala para a tela”. Mas<br />

não se trata aqui de uma arte panfletária, compromissada com outros<br />

discursos e dogmas. A arte de França é compromissada com o movimento,<br />

com o diálogo, com a sua própria circulação. Numa função de<br />

encaminhar o indivíduo, através do diálogo – neste caso artístico – à<br />

encruzilhada, para que ele possa, por si só, escolher seus caminhos,<br />

tomar suas decisões. Abrir as portas, instigar, provocar, atear fogo!<br />

Poeminflamado<br />

Voz-lume a clarear o esquecido, a conflagrar revelações, a queimar<br />

o silêncio outrora outorgado. Voz reconquistada, a narrar a história.<br />

Outra História... Palavras e ideias que latejam aos sentidos de quem as<br />

experimentam. Corpoesia, performance, diálogo, catarse. Chama que<br />

se alastra, que corre ligeira a expor feridas e a espalhar denúncias, novas<br />

perspectivas, ternura, versos, provocações – no contato, na intersubjetividade,<br />

no olho no olho, no ser-em-relação, na explosão... Arte-<br />

-combustível que encurta a solene distância entre o leitor e a poesia,<br />

entre a plateia e o artista, entre o ouvinte aprendiz e o griot.<br />

Amplificar a voz do poeta França e, em certa medida, estender ao<br />

novo leitor essa tal incendiária e irreproduzível experiência do contato<br />

pessoal com o autor e sua artevida são os objetivos fulcrais dos que<br />

colaboraram nesta publicação. Para lograr esta tarefa, reuniram-se alguns<br />

bons amigos do poeta. Guiados pelo aprendizado e pelo amor<br />

que França proporcionou-lhes em vida, realizaram uma pesquisa científica<br />

de mapeamento e catalogação de todo seu acervo escrito, manuscrito<br />

e audiovisual. Recebeu o nome Poeminflamado – A Voz Tridimensional<br />

do Poeta França e foi subsidiada pelo Fundo Pernambucano<br />

de Incentivo à Cultura (Funcultura/Fundarpe).<br />

Um dos resultados dessa empreitada chega, agora, às mãos do leitor:<br />

uma antologia da obra de França – entre publicados e inéditos, escritos e falados,<br />

papel e vídeo, letra e voz. O tutano da presente edição é dividido em<br />

capítulos: os dois primeiros remetem aos livros A Cor da Exclusão (1998) e<br />

Cafuné (2003). Em seguida, está a reunião de poemas que circularam sob a<br />

forma de Cartões (1998-2007), além dos demais poemas publicados nas famosas<br />

Agendas da Vida (2000-2009). Na sequência, dois projetos editoriais<br />

em que o poeta colaborou: Quarto de Ofício (livro-poema de Angelo Bueno,<br />

e com intervenções de França, Erickson Luna e Mauro) e Luz do Litoral<br />

(2005), livro de fotografias de Mateus Sá e pontuado por poemas de França.<br />

Em Poesia para voz apresentam-se poemas que circularam bastante na<br />

oralidade, mas que o poeta nunca dantes havia publicado por escrito. Finalmente,<br />

os inéditos em letra e em voz em O homem que marcha sobre si.<br />

12<br />

Poeminflamado<br />

Apresentação<br />

13

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