Baixe o Livro - poeminflamado
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Na casa de espetáculos o palhaço chora<br />
E sua maquiagem desbota ao contato<br />
de lágrimas multicoloridas contorcendo<br />
seu rosto de dor e máscara grotesca<br />
Desce o pano sem aplausos nem vaias<br />
Apagam-se as luzes sem pontas de<br />
cigarros parecendo vaga-lumes acesos<br />
se vistos à distância.<br />
No picadeiro agora a bailarina<br />
gira sobre si mesma numa velocidade<br />
estonteante. Ela está louca.<br />
O vendedor de cigarros acende o seu<br />
último, e quer tomar um trago<br />
de aguardente de arroz.<br />
Acendem-se as luzes e já não há<br />
ninguém na plateia<br />
nem o palhaço, nem a bailarina<br />
Apenas o espetáculo no ar<br />
Sem risos, sem vozes. Sem luzes e sem som.<br />
Logo, logo descerá o pano<br />
Desse espetáculo lúgubre<br />
Denso. Louco. Tétrico.<br />
E eu prendo defensivamente<br />
A respiração e a palavra.<br />
No prenúncio do apocalipse<br />
Vejo as narinas da Besta;<br />
No trajeto de massificação do Espírito<br />
Vejo a carne desnudada,<br />
O corpo em pelo,<br />
O ego nu!<br />
Solto os estribos do meu animal<br />
E capoto numa curva<br />
Aberta sem prévio aviso.<br />
Dói-me dilaceradamente<br />
Coração e pênis<br />
E substitui o prazer<br />
A imensidão da dor<br />
De me ver só;<br />
Exposição involuntária<br />
De pescoço e jugular<br />
Aos dentes caninos<br />
Da solidão parasitária:<br />
Nem o eco das minhas<br />
Inevitáveis palavras<br />
Nem o som do meu<br />
Eloquente silêncio!<br />
90<br />
Poeminflamado<br />
Agendas da Vida<br />
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