Baixe o Livro - poeminflamado
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Notas dos poemas//188 a 204<br />
I Feito à mão, o perfumado e multicolorido livro A Cor da Exclusão foi<br />
lançado na cidade de Olinda, Pernambuco, a 20 de novembro de 1998, em<br />
pleno Dia Nacional da Consciência Negra.<br />
Com 23 poemas de França e arte de Sil, o produto da Mão-de-Veludo<br />
Edições Artesanais circulou pelo Brasil e pelo mundo através de aproximadamente<br />
100 exemplares que, pela característica de terem sido confeccionados<br />
um a um, através de métodos tradicionais de produção (manuscritos,<br />
encadernados artesanalmente, ilustrados com colagens, raízes, ervas<br />
e papéis reciclados) sempre diferiam entre si.<br />
O diálogo da poesia de França com a arte de Sil conferia movimento<br />
aos poemas, uma vez que a artista gráfica costumava interferir na disposição<br />
visual dos versos de acordo com suas ilustrações. Aqui – assim como<br />
no capítulo subsequente, referente ao livro Cafuné – tivemos o cuidado<br />
de manter esse conceito visual do movimento, porém adaptando-o à<br />
nova realidade editorial e respeitando as formas originais dos poemas,<br />
encontradas nos manuscritos do poeta. A não padronização da utilização<br />
de maiúsculas no início dos versos remete também a essa característica<br />
do movimento e da oralização da escrita, que achamos por bem manter.<br />
Vale ressaltar que o livro tem sua origem em uma performance homônima<br />
estreada pelo autor no dia 20 de novembro de 1996. Ela foi apresentada<br />
semanalmente no sótão do Bar Almanaque, situado no Sítio Histórico de Olinda<br />
(mais precisamente no Varadouro), até o ano seguinte. A partir de imagens<br />
dessas apresentações – feitas pelo videasta Jeferson Luiz e inseridas no DVD<br />
anexo a esta edição – pode-se constatar que o autor operou cuidadosas seleção<br />
e revisão dos poemas utilizados nas performances (até então circulados<br />
apenas oralmente) para, então, adaptá-los e incluí-los à publicação escrita.<br />
No mais, o livro em comento traz como prólogo poemas de três intercessores<br />
de França – o inglês Kemble Williams, pai de seu amigo Peter<br />
Williams; o amigo e parceiro em literatura e performances Angelo Bueno;<br />
e Erickson Luna, grande referência da poesia urbana de Recife e símbolo<br />
do que se costumou convencionar/rotular na cidade como poesia marginal.<br />
A poesia de Luna também se encontra em seu livro Do moço e do<br />
bêbado, editado em Recife no ano de 2004.<br />
Portanto, a presença dos três poemas em comento nos revela uma<br />
face importante da ideologia do trabalho de França: a inserção de outras<br />
vozes em sua obra, enriquecendo e materializando a teia intertextual de<br />
comunicação entre os atores do sistema literário em que o poeta se inclui.<br />
Assim, a interpretação da função específica de cada um desses poemas<br />
n´A Cor da Exclusão faz-se de extrema importância para a compreensão<br />
IN Consumido<br />
Preservam poesia<br />
em geladeiras-bibliotecas.<br />
servem-na seca<br />
nas escolas<br />
ano após ano<br />
Ninguém poderia consumi-la toda,<br />
nem se gastasse a vida inteira;<br />
estamos ainda digerindo colheitas<br />
do século dezesseis.<br />
Quem me dera que comêssemos poesia<br />
como tortas,<br />
Lambêssemos até o último naco<br />
deixando as páginas em branco.<br />
Assim eles implorariam<br />
que poetas enchessem os livros,<br />
poetas seriam populares,<br />
como cozinheiros,<br />
e quando se sentassem<br />
famintos numa biblioteca<br />
somente poesia feita na hora<br />
seria servida<br />
(Kemble Williams / Tradução: Peter Williams)<br />
do todo do livro. Seguem os três poemas citados.<br />
188<br />
Poeminflamado<br />
Notas<br />
189<br />
Brechava<br />
A fresta<br />
A festa que havia<br />
todos sorriam<br />
todos bailavam<br />
todos dançavam.<br />
Eu? Ora,<br />
Eu brechava<br />
(Angelo Bueno)