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ARTISTAS UNIDOS - Companhia de Teatro de Almada

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não estão portanto em tal posição recíproca on<strong>de</strong> seja uma “honra” para um burguês<br />

casar com um nobre: eles não são iguais, porque o mundo moral é diferente, são<br />

diferentes os usos e costumes, mas já não no sentido em que não o eram há um século<br />

atrás. A nobreza per<strong>de</strong>u valor, foi esvaziada <strong>de</strong> conteúdo e até se embruteceu: não é só o<br />

Marquês <strong>de</strong> Floripópoli, que arrasta mais ou menos dignamente a sua própria nobreza<br />

sem substância, mas é também o brusco cinismo do Con<strong>de</strong> Anselmo Terrazzani que na<br />

Famiglia <strong>de</strong>ll’antiquario põe <strong>de</strong> parte qualquer snobismo <strong>de</strong> classe e que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />

dado o próprio filho como marido a Doralice, lamenta não ter outro para po<strong>de</strong>r<br />

“enlamear outra vez a pureza do sangue com mais vinte mil ducados” 33 . Destruído o<br />

privilégio, primeiro na teoria e <strong>de</strong>pois nos factos, ou vice-versa, cumprindo-se em todas<br />

as terras, a nobreza conserva apenas o fascínio do brasão; mas é um fascínio tal que o<br />

burguês prefere sempre o seu sólido pé-<strong>de</strong>-meia do capital e do seu trabalho. E <strong>de</strong> agora<br />

em diante o espírito da classe nobre surgirá ultrapassado, grotesco e ridículo, tanto<br />

quanto diante da <strong>de</strong>cadência da classe aristocrática, e na <strong>de</strong>sautorização da sua função<br />

histórica se <strong>de</strong>senhará o reforço da nova classe burguesa, e também o público, também<br />

já “burguês”, adquirirá uma consciência exacta da própria superiorida<strong>de</strong> moral e<br />

histórica e cessará <strong>de</strong> olhar para a nobreza como uma classe on<strong>de</strong> os privilégios – já<br />

esvaziados <strong>de</strong> conteúdo – valem mais que a indústria ou um comércio próspero.<br />

Nota: Todas as transcrições do Prefácio – Do Autor a Quem Ler e A Estalaja<strong>de</strong>ira são <strong>de</strong> Jorge Silva<br />

Melo, Carlo Goldoni, Peças Escolhidas, volume 1. Cotovia, 2008.<br />

33 A. I, cena 3.<br />

Rua <strong>de</strong> Campo <strong>de</strong> Ourique, 120 / 1250 – 062 Lisboa/ Tel: 21 391 67 50<br />

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