19.04.2013 Views

ARTISTAS UNIDOS - Companhia de Teatro de Almada

ARTISTAS UNIDOS - Companhia de Teatro de Almada

ARTISTAS UNIDOS - Companhia de Teatro de Almada

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vem, <strong>de</strong> facto, Fabrício, (da porta oposta e simétrica aquela a que volta a bater o<br />

Cavaleiro) mas nem assim se modifica a situação estratégica. O Cavaleiro, enganado<br />

por Mirandolina, bate com renovada e maior violência à porta, grita e quer que a abram<br />

e, <strong>de</strong>parado com a negação, “ouve-se o Cavaleiro a tentar arrombar a porta”. Começa a<br />

arrombar a porta esperando po<strong>de</strong>r arrombar a patroa. Mirandolina escapa pela porta<br />

por on<strong>de</strong> entrou Fabrício. Desconfiando da porta que fechou à chave, interpõe entre si e<br />

o Cavaleiro, a barreira <strong>de</strong> um fiel servidor, que portanto tomou objectivamente o lugar<br />

<strong>de</strong> Mirandolina e se encontra em primeira linha a resistir ao ataque. Mas a sua força<br />

contratual é ainda menor que a <strong>de</strong> Mirandolina. Ela era a patroa da estalagem, ele é<br />

apenas um servo. “Cruzes! Não quero arruinar-me! Olá, rapazes? Não está aí<br />

ninguém?”. Fabrício não quer “arruinar-se”, isto é, comprometer-se, precipitar-se,<br />

fazendo qualquer <strong>de</strong>spropósito. Porque é um <strong>de</strong>spropósito um servo opor-se a um<br />

nobre. Tomou o lugar <strong>de</strong> Mirandolina, mas acaba por se comportar exactamente como<br />

Mirandolina: explora a terceira porta; em vez <strong>de</strong> ser ele o auxílio, pe<strong>de</strong> ajuda para si. E<br />

da terceira porta, surgem imediatamente novos e <strong>de</strong>cisivos aliados: “O Marquês <strong>de</strong><br />

Forlipopoli e o Con<strong>de</strong> Albafiorita à porta do meio”. A rubrica não é por acaso. Goldoni<br />

<strong>de</strong>senhou um campo <strong>de</strong> batalha perfeito, esquematizou as geometrias do ataque e da<br />

<strong>de</strong>fesa. Dos dois lados, dos dois extremos, em posições opostas e simétricas, nos dois<br />

pontos horizontalmente mais longínquos, a porta a que o Cavaleiro vai batendo e até<br />

agora procura <strong>de</strong>cididamente arrombar, e a porta por on<strong>de</strong> entrou Fabrício e fugiu<br />

Mirandolina: da “porta do meio” acercam-se, como é claro, aqueles que se metem no<br />

meio da disputa, os mediadores, os intermediários. Goldoni insiste na posição dos dois<br />

novos chegados em relação à <strong>de</strong>slocação das portas fulcrais.<br />

CONDE (à porta) Quem é?<br />

MARQUÊS (à porta) Que rumor é este?<br />

FABRÍCIO (baixo, para que o CAVALEIRO não o ouça) Senhores, por favor. É o<br />

senhor Cavaleiro <strong>de</strong> Ripafratta que quer arrombar aquela porta.<br />

CAVALEIRO (fora) Abri, ou <strong>de</strong>ito-a abaixo!<br />

Fabrício consi<strong>de</strong>ra-os seus aliados. O Con<strong>de</strong> assegura-o mas obriga-o a abrir<br />

(“Nada receeis. Estamos nós aqui”). Até porque, encorajado por aquela presença –<br />

observa Guido Davico Bonino no seu cuidadoso comentário à comédia – “Fabrício fala<br />

não como se fosse um servo, mas como um estalaja<strong>de</strong>iro ante litteram que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a<br />

honra da mulher”. Fabrício respon<strong>de</strong>, <strong>de</strong> facto, ao Cavaleiro: “Vossa Senhoria paga o<br />

seu dinheiro para que lhe obe<strong>de</strong>çam nas coisas lícitas e honestas. Mas não po<strong>de</strong><br />

preten<strong>de</strong>r, perdoe-me dizer-lho, que uma mulher honrada...”. O resultado, contudo, é<br />

bem diferente daquele que Fabrício esperava:<br />

CAVALEIRO Que dizes? Que sabes tu? Nada tens a ver com os meus assuntos! Sei eu<br />

as or<strong>de</strong>ns que lhe <strong>de</strong>i!<br />

FABRÍCIO Or<strong>de</strong>naste-lhes que fosse ao vosso quarto!<br />

Rua <strong>de</strong> Campo <strong>de</strong> Ourique, 120 / 1250 – 062 Lisboa/ Tel: 21 391 67 50<br />

46

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!