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teoria literária - Universidade Castelo Branco

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pois, se uma Escola procurava ressaltar o sentido histórico contido na Bíblia (Escola de<br />

Antioquia), a outra colocava em evidência a necessidade de se atingir o sentido<br />

espiritual que se evolava das páginas sagradas. Esses dois pontos de vista divergentes<br />

atestam o caráter polêmico da Bíblia (como repositório das mais diversas expressões<br />

<strong>literária</strong>s), sem, contudo, despojar-se de sua condição de reveladora da palavra de<br />

Deus. Atestam, inclusive, a dificuldade do intérprete de ater-se a uma interpretação<br />

consensual. Coreth informa ainda que Orígenes [um estudioso preocupado em unir a<br />

investigação histórico-filológica do texto a uma noção distinta dos vários sentidos que<br />

se podem destacar do mesmo] procurava ligar as duas correntes conscientemente,<br />

procurando desenvolver uma investigação cuidadosa. Prosseguindo em sua<br />

recapitulação histórica do problema teológico, ressalta, cuidadosamente, as divergências<br />

de opiniões entre São Jerônimo e Santo Ambrósio, bispo de Milão, e orientador de<br />

Santo Agostinho em sua redescoberta do Cristianismo.<br />

No que se refere a Santo Agostinho, é importante destacar seu caráter<br />

conciliador, ao procurar aliar as duas formas de interpretar a Bíblia. Isto se prende ao<br />

fato de que o mesmo vivenciou várias formas de vida contemplativa, antes de se<br />

converter definitivamente ao cristianismo. Conhecendo-se suas transformações<br />

existenciais e religiosas, não é difícil compreender o porquê dessa atitude conciliadora<br />

(também destacada por Coreth). De origem cristã, o futuro Bispo de Hipona<br />

desenvolveu sua inteligência dentro de conceitos filosóficos e científicos distantes dos<br />

ensinamentos religiosos de sua infância. Estudou retórica, leu os professores e poetas<br />

latinos, desenvolveu estudos referentes às Ciências Humanas (foi aluno de Varrão) e,<br />

posteriormente, aderiu-se à doutrina Maniqueísta, abandonando os postulados cristãos<br />

da revelação sobrenatural da palavra de Deus, em benefício de uma orientação religiosa<br />

fundamentada apenas no conhecimento racional. Não satisfeito com esta doutrina,<br />

torna-se discípulo de Ambrósio, Bispo de Milão. Por tais razões, mesmo abandonando<br />

os conceitos da razão pura e retornando às normas do Cristianismo, o ex-estudioso das<br />

<strong>teoria</strong>s de Varrão, ex-professor de gramática e retórica, ex-maniqueísta, jamais pode<br />

eliminar de sua vida o que foi aprendido e vivenciado. Restou-lhe uma atitude<br />

conciliadora: interpretar a Bíblia observando o elemento sobrenatural, sem abdicar do<br />

racional.<br />

O problema da compreensão dos Textos Sagrados continuou repercutindo nas<br />

etapas seguintes da Era Moderna: a reforma luterana em oposição à Igreja Romana,<br />

posteriormente a Contra-Reforma [numa tentativa de recuperar o anterior poder<br />

religioso, naquele momento em decadência], passando pelo pensamento Iluminista e sua<br />

visão racional da mensagem divina, até chegar a Hegel e outros pensadores.<br />

No século XIX, inaugura-se o movimento hermenêutico, propriamente dito. É<br />

nesse momento que vamos encontrar a palavra hermenêutica como sinônimo de<br />

investigação e compreensão do texto ainda religioso, visando a opor-se à pesquisa<br />

histórico-crítica, método que tem sua origem na obra polêmica de David Friedrich<br />

Strauss, A Vida de Jesus, e que procurava ressaltar, na Bíblia, a história do Antigo<br />

Oriente, preocupando-se em estudar os aspectos lingüísticos e culturais em detrimento<br />

do sentido sobrenatural contido nos Textos e revelador dos desígnios de Deus. O<br />

movimento hermenêutico opunha-se ao método histórico-crítico, mas, ao mesmo tempo,<br />

não desprezava a contribuição valiosa oferecida por essa forma de investigação crítica<br />

da Bíblia e, inclusive, destacava seu caráter esclarecedor. Não se tratava exatamente de<br />

uma oposição, mas de conciliação, postura que outros exegetas da Bíblia adotaram, no<br />

transcorrer da História Religiosa do Homem.

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