B. Horto do Esposo - Universidade Aberta
B. Horto do Esposo - Universidade Aberta
B. Horto do Esposo - Universidade Aberta
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A. Constituições Sinodais e livros de penitenciais<br />
1. Origem <strong>do</strong> peca<strong>do</strong><br />
O homem respondeu: «A mulher que me deste por<br />
companheira deu-me o fruto, e eu comi». Javé Deus disse à<br />
mulher: «Que fizeste?» A mulher respondeu: «A serpente<br />
enganou-me, e eu comi».<br />
Génesis, 3, 12-13<br />
Para abordarmos os peca<strong>do</strong>s cometi<strong>do</strong>s pelas mulheres referi<strong>do</strong>s em Constituições<br />
Sinodais e livros penitenciais, em <strong>Horto</strong> <strong>do</strong> <strong>Esposo</strong> e em alguns contos recolhi<strong>do</strong>s por José<br />
Leite de Vasconcellos, optámos por começar pela análise lógica de registos que<br />
cronologicamente surgiram primeiro e que deixaram a sua influência na cultura e<br />
mentalidade <strong>do</strong>s povos. Referimo-nos ao conjunto de textos encontra<strong>do</strong>s no Antigo<br />
Testamento e, em particular, à leitura e análise <strong>do</strong> capítulo 3 <strong>do</strong> livro <strong>do</strong> Génesis<br />
(nomeadamente a «Origem <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> e da Humanidade», «A Criação») que constitui,<br />
forçosamente, o nosso ponto de partida para a compreensão da origem <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> cometi<strong>do</strong><br />
pela mulher. Assim, a desobediência surge como uma transgressão que marcou o<br />
surgimento da noção de peca<strong>do</strong> original a que o cristianismo deu tanta importância. 1<br />
No capítulo 3 <strong>do</strong> Génesis, verificamos que a mulher foi criada apenas para servir de<br />
companhia ao homem, ten<strong>do</strong>, desde o momento da sua criação, um papel secundário. Deus<br />
criou o homem e deu-lhe a sua principal função de cultivar e guardar o jardim <strong>do</strong> Éden<br />
(«Javé Deus tomou o homem e colocou-o no jardim <strong>do</strong> Éden, para que o cultivasse e<br />
guardasse.» 2 ), com a recomendação de não comer da árvore <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong><br />
mal. Com o argumento de que «Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer-lhe<br />
uma auxiliar que lhe seja semelhante» 3 , Deus criou to<strong>do</strong>s os seres vivos, mas nenhum era<br />
semelhante ao homem. De mo<strong>do</strong> que «Tomou então uma costela <strong>do</strong> homem e no lugar fez<br />
crescer carne.» 4 , «modelou uma mulher, e apresentou-a ao homem» 5 que exclamou: «Esta,<br />
1<br />
Cf. Georges Minois, As origens <strong>do</strong> mal: uma história <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> original, Lisboa, Editorial Teorema,<br />
2004.p.27.<br />
2<br />
Génesis, 2, 15.<br />
3<br />
Ibidem, 2, 18.<br />
4<br />
Ibidem, 2, 21. São Paulo, a propósito <strong>do</strong> hábito de cobrir a cabeça, refere a ideia de a mulher ser dependente<br />
<strong>do</strong> homem, devi<strong>do</strong> ao facto de ter si<strong>do</strong> tirada e criada para o servir: «O homem não deve cobrir a cabeça,<br />
porque é a imagem e a glória de Deus; mas a mulher é a glória <strong>do</strong> homem. Pois o homem não foi tira<strong>do</strong> da<br />
mulher, mas a mulher foi tirada <strong>do</strong> homem. E o homem não foi cria<strong>do</strong> para a mulher, mas a mulher foi criada<br />
para o homem. Sen<strong>do</strong> assim, a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal da sua dependência, por causa <strong>do</strong>s<br />
4