25.04.2013 Views

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

contumelia, vituperio e blasfemia <strong>do</strong> sanctissimo nome de Deus, ao qual nom apraz de<br />

taes comessaçõoes, manjorradas e bebedices serem fectas no seu sancto paaço, de que<br />

se muitas vezes seguem arroy<strong>do</strong>s, | sacrilegios e mortes de homens, fornizios e adulterios<br />

e outros muitos malles. Porém per esta presente constituiçom e ordenaçom stabelecemos e<br />

ordenamos e streitamente defendemos, sub penna d’escuminhom e maldiçom eternal, que<br />

daqui avante nom façam vo<strong>do</strong>s nem ponham mesas dentro nas egrejas e moesteiros pera hy<br />

comerem, salvo se for alguum clerigo, emquanto celebrar alguum trintairo emçarra<strong>do</strong>, ou<br />

alguum omizia<strong>do</strong>. E estes possam comer e <strong>do</strong>rmir em hũua parte ou em huum canto da<br />

egreja mais escuso e afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> altar o mais que ser possa e esto em toda onestidade,<br />

varren<strong>do</strong> logo e alinpan<strong>do</strong> o lugar em que assy comerem, em tal guisa que a egreja fique e<br />

stê senpre linpa de toda çugidade. E o omizia<strong>do</strong> vaa fazer suas necessidades fora da egreja 49<br />

De facto, a partir da leitura <strong>do</strong> Síno<strong>do</strong> de D. Luís Pires, verificamos que os<br />

clérigos não descuravam somente o espaço das igrejas e <strong>do</strong>s mosteiros. Vejamos, então, os<br />

aspectos mais critica<strong>do</strong>s: a sua aparência, pois a maioria vestia-se como leigo, não usava a<br />

sobrepeliz durante as missas, não cortava os cabelos, não fazia a barba e a coroa e não<br />

cumpria as suas funções eclesiásticas, como baptizar os recém-nasci<strong>do</strong>s, dar a confissão, a<br />

absolvição <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s e a excomunhão aos que estavam a morrer. Com efeito, muitos<br />

tinham também filhos das mulheres concubinas, que criavam como legítimos, e que<br />

levavam para as igrejas para dizerem missa e cantar no coro, utilizan<strong>do</strong> o património da<br />

Igreja (muitas vezes com a venda de cálices e pratas) para os sustentar.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, face à situação vivida na maioria das igrejas localizadas em zonas<br />

rurais, tornou-se premente a necessidade de organizar encontros entre o clero paroquial e o<br />

bispo por ocasião <strong>do</strong> Síno<strong>do</strong> diocesano, mas que não ocorriam regularmente e que se<br />

tornaram insuficientes para a instrução <strong>do</strong>s clérigos, pois, e segun<strong>do</strong> Isaías da Rosa<br />

Pereira: «Podemos mesmo afirmar que, com toda a probabilidade, nenhum bispo celebrou<br />

periodicamente o síno<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> a legislação conciliar. E isto por toda a Europa, em toda<br />

esta época e mesmo depois <strong>do</strong> século XV». 50 No entanto, os Síno<strong>do</strong>s que chegavam às<br />

igrejas não tinham somente a função de alterar o comportamento desregra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s clérigos,<br />

como nos refere Patrícia Anne Odber de Baubeta:<br />

49 Síno<strong>do</strong> de D. Luís Pires, 11 de Dezembro de 1477, in António Garcia Y Garcia (ed.) et alii, Synodicon<br />

Hispanum: vol. II, Portugal, Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1982, pp.96-97.<br />

50 I. da Rosa Pereira, «A vida <strong>do</strong> clero…», p.41.<br />

18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!