25.04.2013 Views

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

B. Horto do Esposo - Universidade Aberta

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ten<strong>do</strong> em conta que os textos normativos foram escritos a pensar nas perguntas<br />

dirigidas aos homens, poucas são as que estão direccionadas especificamente às mulheres e<br />

aos seus peca<strong>do</strong>s; no entanto, verificamos, em Trata<strong>do</strong> de Confissom, relativamente ao<br />

sexto mandamento (não fornicar), que o confessor deveria de colocar dezasseis questões a<br />

quem se confessasse e que apenas uma era dirigida à mulher: «a primeyra com quem fez<br />

adulterio. A segunda quantas uezes e cõ quaes pessoas. E se for molher a que se confessa<br />

pregũtelhe se ouue alguũ auer dalguũ homem que perteecese a ygreia ou a mosteiro» 105 ,<br />

reflectin<strong>do</strong>, assim, a preocupação de verificar se o adultério 106 feminino se consumava com<br />

algum clérigo 107 , pois as relações das mulheres com os clérigos levantavam também<br />

questões económicas, relativas aos custos de suportar as concubinas, e a consequente<br />

delapidação <strong>do</strong>s bens da Igreja.<br />

Ainda relativamente ao adultério 108 , constatamos que, no Libro de las Confesiones,<br />

(constituição 171, II parte), está subjacente a prudência que o confessor tinha de manifestar<br />

quan<strong>do</strong> abordasse este assunto, pois se o peca<strong>do</strong> <strong>do</strong> adultério pratica<strong>do</strong> pela mulher não<br />

fosse <strong>do</strong> conhecimento público, o confessor não poderia expô-la e dar-lhe uma penitência<br />

pública: «penitençia publica non se deve poner por peca<strong>do</strong> ascondi<strong>do</strong>, ca podria por tal<br />

penitençia ser descubierto el peca<strong>do</strong> […] mas deve el confesor al peca<strong>do</strong> ascondi<strong>do</strong> dar<br />

penitençia ascondida» 109 , pois: «si una muger fizo adulterio ascondi<strong>do</strong>, ascondida<br />

penitençia deve fazer e atan escondida que aun su mari<strong>do</strong> non pueda venir a sospecha» 110 , e<br />

a penitência deveria ser escondida, de mo<strong>do</strong> a que o mari<strong>do</strong> não suspeitasse da traição. A<br />

discrição sugerida pelos legisla<strong>do</strong>res em proteger a mulher <strong>do</strong> escândalo público reflecte<br />

algumas preocupações face a um peca<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> tão danoso. A Igreja transmitia,<br />

assim, a preocupação de Jesus face ao adultério e o fim de um casamento, pois os homens<br />

egreia per sentença porque eram segun<strong>do</strong>s coyrmaãos e sijam em peca<strong>do</strong>» Teresa Brocar<strong>do</strong>, (ed.), Livro de<br />

Linhagens <strong>do</strong> Conde D. Pedro, Edição <strong>do</strong> fragmento manuscrito da Biblioteca da Ajuda (século XIV),<br />

Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2006, p.69.<br />

105 Trata<strong>do</strong> de Confissom, pp.39-40.<br />

106 Como reitera a autora Cristina Segura Graiño: «El peligro que suponía el adulterio, el más grave peca<strong>do</strong><br />

que puede cometer una mujer, se debe a que podía dar lugar a que recibiera la herencia familiar un individuo<br />

que fuera hijo de otro hombre. Por ello, para mantener el patrimonio de forma segura dentro de la propia<br />

descendencia, se castigaba el adulterio duramente por la Iglesia y por la ley civil. El que un hombre casa<strong>do</strong><br />

mantuviera relaciones con otra mujer que no fuera la suya legítima no suponía menoscabo en la sucesión, por<br />

otra parte, el reconocimiento a los hijos bastar<strong>do</strong>s fue algo frecuente. Por ello, la ley no trataba el adulterio de<br />

la misma manera para los hombres que para las mujeres.», C. Segura Graiño, «El peca<strong>do</strong>…», p.223.<br />

107 O Trata<strong>do</strong> de Confissom também apresenta perguntas que o confessor deveria fazer aos religiosos,<br />

verifican<strong>do</strong>-se a preocupação com os peca<strong>do</strong>s cometi<strong>do</strong>s com as mulheres: «Se olhou as molheres com<br />

maa emtẽçom […] Se apalpou as molheres cõ desonestidade e com maao deseio», p.42.<br />

108 De acor<strong>do</strong> com o sexto mandamento: «Não cometas adultério.», Êxo<strong>do</strong>, 20, 14.<br />

109 M. Pérez, Libro…, p.495.<br />

110 Ibidem, p.496.<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!