Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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entrada no conflito, ou seja, escolher um e rejeitar outro, fazer a escolha<br />
certa e o erro etc. E crença entendida “quando uma pessoa chega à<br />
convicção fundamental de que tem de ser comandada” (NIETZSCHE,<br />
2001, p. 241), que é um estado de permanente obediência, de corpo<br />
dócil e servil. Nietzsche vê no “espírito livre” a liberdade de vontade<br />
por excelência e um corpo leve capaz de equilibrar-se sobre delicadas<br />
cordas ou de dançar até mesmo à beira de abismos, mesmo que esse<br />
“espírito livre” – como declara no prólogo para o volume I de Humano,<br />
demasiado humano – Um livro para espíritos livres –, seja uma espécie<br />
de invenção, de ficção sua, uma forma de “manter a alma alegre<br />
em meio a muitos males” (NIETZSCHE, 2005, p. 8). Esses espíritos seriam<br />
como “valentes confrades fantasmas, com os quais proseamos e<br />
rimos, quando disso temos vontade, e que mandamos para o inferno,<br />
quando se tornam entediantes – uma compensação para os amigos<br />
que faltam” (NIETZSCHE, 2005, p. 8). Porém Nietzsche define, em A<br />
gaia ciência, o “espírito livre por excelência”:<br />
Quando uma pessoa chega à convicção fundamental de que tem de<br />
ser comandada, torna-se “crente”; inversamente, pode-se imaginar<br />
um prazer e força na autodeterminação, uma liberdade da vontade,<br />
em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza,<br />
treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades<br />
e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito<br />
seria o espírito livre por excelência (NIETZSCHE, 2001, p. 241, grifos<br />
do autor).<br />
Da mesma forma, para Barthes, uma reflexão sobre o Neutro é um<br />
modo de procurar livremente, de buscar (sempre de modo livre) o<br />
próprio estilo de atuação ou de presença nas lutas do nosso tempo<br />
(BARTHES, 2003, p. 20) – e nessa tarefa estão comprometidos todos<br />
aqueles que se despedem de toda crença, porque toda crença pressupõe<br />
escolher um e rejeitar outro, pressupõe escolher uma intensidade<br />
ou uma “atividade ardente” como um “prazer e força na autodeterminação,<br />
uma liberdade de vontade”, como nas palavras de Nietzsche já<br />
citadas. Por isso mesmo é que, de certa forma, o Neutro se aproximaria<br />
do sentido da dança, um estado quase permanente de dança para<br />
tocar o escuro do contemporâneo; de dança como desvio, embaço,<br />
128 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012