Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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a ideia de formação baseava-se no princípio de que as formas culturais<br />
nacionais são, por um lado, fundadas sob uma herança colonial que se<br />
repõe a par com o progresso e com a modernização capitalista e, por<br />
outro, sob o desejo histórico dos brasileiros de ter uma cultura – com<br />
todas as contradições que esse princípio desejante possa provocar.<br />
A síntese precisa de Paulo Emílio, cujos trabalhos sobre cinema localizam-se<br />
no núcleo dessa tradição teórica, daria o tom da discussão:<br />
“Não somos europeus nem americanos do norte, mas destituídos de<br />
cultura original, nada nos é estrangeiro pois tudo o é. A penosa construção<br />
de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não<br />
ser e o ser outro” (GOMES, 1980, p. 77). Um dilema “hamletiano”<br />
define a origem e os princípios do intelectual (o teórico ou o artista)<br />
do mundo da economia dependente: “Um certo sentimento íntimo<br />
de inadequação, esse o drama do intelectual brasileiro, situado entre<br />
duas realidades, condenado a oscilar entre dois níveis de cultura”<br />
(ARANTES, 1992, p. 16).<br />
A superação do “desconforto intelectual” procede (ou não) no correr<br />
de um trabalho de mão dupla, em que a trama civilizatória concorre<br />
no sentido da incorporação do meio acanhado para a norma culta<br />
metropolitana, do mesmo modo que assegura o arranjo e a adaptação<br />
dessa norma à realidade local. “Dialética do local e do cosmopolita”,<br />
“dupla fidelidade”, “incapacidade criativa em copiar” (como veremos<br />
adiante) são algumas das definições que Candido e Paulo Emílio usariam,<br />
em diferentes momentos, para figurar essa oscilação definidora<br />
da trama das ideias e do drama dos intelectuais no contexto periférico.<br />
Uma proposição dialética é a base do conceito de formação, descrevendo<br />
o processo em que as ideologias se moldam entre nós, como<br />
uma escultura se molda, adaptando-se, chocando-se e (por vezes)<br />
superando-se diante do novo contexto.<br />
As linhas evolutivas dessa formação, tão penosa quanto a melancólica<br />
definição de Paulo Emílio sugere, constituem os diversos processos<br />
formativos de nosso sistema de entendimento cultural, em que a dialética<br />
joga as cartas decisivas, “porque se pode falar em dialética onde<br />
há uma integração progressiva por meio de uma tensão renovada a<br />
cada etapa cumprida” (ARANTES, 1992, p. 17). A noção de formação<br />
dá a medida dessas integrações e ilumina o caminho das etapas cumpridas<br />
(ou não).<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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