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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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em que Mário de Andrade clamou pelas mudanças dos que haviam<br />

mudado (quase) tudo. Eram anos de formação e não de desmanche,<br />

tempos de otimismo. O Brasil parecia, mesmo aos olhos dos desconfiados,<br />

ter se tornado mais inteligente por volta desses anos de redemocratização.<br />

A esquerda estava acertando passos e marcava posição<br />

em setores diversos da cultura e da ação política, do Cinema Novo à<br />

Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. O golpe militar ainda teria de<br />

esperar uns anos para dar o ar de sua terrível graça 3 .<br />

Roberto Schwarz costuma exaltar em Candido sua capacidade de<br />

visão “estereoscópica”, criando uma analogia com o procedimento<br />

semelhante utilizado por Walter Benjamin em seus estudos sobre<br />

Baudelaire. Nestes são privilegiadas as correspondências sociais entre a<br />

lírica e as figuras do submundo urbano ou os dramas do funcionamento<br />

do mercado (em personagens como o colecionador ou o putschista),<br />

percebendo aí não apenas similitude de origem mas sobretudo o<br />

fato de que tais figuras e formas literárias estão marcadas por formas<br />

sociais que se correspondem (não que se “espelhem”). Não se trata,<br />

entretanto, de reduzir uma dimensão a outra mas de entendê-las, em<br />

linguagem benjaminiana, dentro de uma constelação, que exige do<br />

ensaísta a capacidade de “sair” do texto para perceber e recolher as<br />

correspondências soltas e fragmentadas no tecido social (SCHWARZ,<br />

1992, p. 33-34). A comparação não é gratuita nem aleatória, como<br />

veremos, e tem razão de ser. Antes de tudo porque, naqueles autores,<br />

forma social e forma literária se ligam na medida em que a realidade é<br />

ela mesma “forma”. Entender essa “formação” já é então o maior dos<br />

problemas enfrentados por nossa nova tradição crítica.<br />

Na virada da década de 1950 para 1960 o desenvolvimento do conceito<br />

de formação era central para o novo pensamento crítico. Em<br />

setores diversos, nos estudos de intelectuais como Caio Prado Jr. (Formação<br />

do Brasil contemporâneo), Celso Furtado (Formação econômica<br />

do Brasil) e o próprio Candido (Formação da literatura brasileira), o<br />

conceito anunciava uma radical mudança na maneira de conceber o<br />

país e a história. Para nossos fins, anotemos que, na esfera da cultura,<br />

3 O período, com seu otimismo e suas ilusões, foi analisado por Roberto<br />

Schwarz em um de seus mais notáveis ensaios, escrito e publicado originalmente<br />

em Paris durante seu exílio: “Cultura e Política, 1964-69” (1978).<br />

84 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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