Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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1 tExtoS ou CoNtExtoS: A CRiSE DA SoCioLoGiA Do CoNHECimENto<br />
Começo por observar que para que o significado heurístico das<br />
interpretações do Brasil para as Ciências <strong>Sociais</strong> em suas diferentes<br />
especialidades contemporâneas possa ser avaliado é preciso encontrar,<br />
antes de tudo, formas consistentes de aproximação entre questões do<br />
presente e interpretações do passado. O que, por sua vez, exige pesquisas<br />
que possam qualificar justamente o perfil propriamente cognitivo<br />
das interpretações de que a sociedade brasileira vem sendo objeto ao<br />
longo do tempo. Assim, não será toda perspectiva metodológica empregada<br />
na reconstituição da história das Ciências <strong>Sociais</strong> no Brasil que,<br />
por seus próprios objetivos, estará apta a levar a tarefa a cabo, embora<br />
suas contribuições para o esclarecimento daquela história sejam inegáveis<br />
e não possam ser minimizados. Sem pretender ser exaustivo,<br />
observo que um passo crucial na direção da pesquisa do perfil propriamente<br />
cognitivo da tradição intelectual brasileira foi dado pelo recente<br />
trabalho de Gildo Marçal Brandão, Linhagens do pensamento político<br />
brasileiro (2007). Nele, Brandão persegue o fio que nos tem ligado, na<br />
prática das Ciências <strong>Sociais</strong> – e nas suas formas correspondentes de<br />
pensar o Brasil e nele atuar –, ao nosso passado intelectual, para além<br />
dos marcos institucionais. Trata-se de um programa de pesquisa consistente<br />
que, explorando a fundo as consequências do fato de que<br />
nenhuma inovação intelectual se realiza em um vazio cognitivo, propõe<br />
nova inteligibilidade para o pensamento político-social brasileiro. Mais<br />
do que mera testemunha do passado, este constituiria o índice da existência<br />
de um corpo de problemas e soluções intelectuais – “um estoque<br />
teórico e metodológico”. Autores de diferentes épocas são levados<br />
a se referir a esse “estoque”, ainda que indiretamente e, guardadas as<br />
especificidades cognitivas e políticas de cada um, no enfrentamento<br />
de velhas questões postas pelo desenvolvimento social. Não se trata de<br />
minimizar o influxo cognitivo externo a que também as Ciências <strong>Sociais</strong><br />
brasileiras estão sujeitas em sua prática cotidiana; e sim de reconhecer<br />
que, ainda assim, o pensamento político-social brasileiro tem representado<br />
“um afiado instrumento de regulação de nosso ‘mercado interno<br />
das ideias’ em suas trocas com o mercado mundial” (BRANDÃO, 2007,<br />
p. 23-24).<br />
Todavia, uma questão metodológica importante suscitada pelo livro<br />
de Brandão é saber se o pertencimento a uma “família” intelectual<br />
16 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012