O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
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A abordagem antropológica provoca, assim uma verdadeira revolução<br />
epistemológica, que começa por uma revolução do olhar. Ela implica um<br />
descentramento radical, uma ruptura com a idéia de que existe um ‘centro do<br />
mundo’, e, correlativamente, uma ampliação do saber e uma mutação de si<br />
mesmo. (p.22-23)<br />
Geertz propõe uma visão ampliada de ser humano e de cultura, refutando a<br />
chamada concepção estratigráfica e substituindo-a por uma concepção sintética que, de<br />
acordo com esse autor, “... os fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais<br />
possam ser tratados como variáveis dentro dos sistemas unitários de análise” (1989,<br />
p.56). Essa concepção proposta por Geertz, não nega as características biológicas,<br />
psicológicas, sociais e culturais no ser humano, mas sim procura considerá-las como<br />
variáveis de um todo humano indissociável, portanto sem privilegiar uma abordagem em<br />
detrimento de outra.<br />
Geertz diz que a espécie humana só chegou a se constituir como tal pela<br />
concorrência simultânea de fatores culturais e biológicos, pois “... nós somos<br />
animais incompletos e inacabados que nos completamos e acabamos através<br />
da cultura – não através da cultura em geral, mas através de formas altamente<br />
particulares de cultura...” (1989, p.61). Os seres tornam-se humanos devido<br />
sua individualidade, porém sob direção dos padrões culturais, sistemas de<br />
significados criados historicamente em termos dos quais tomam forma, ordem,<br />
objetivo e direção às suas vidas (1989, p.64).<br />
Segundo Daolio (2003, p.116), a partir dos anos 80, vários autores da Educação<br />
Física brasileira passaram a considerar em seus trabalhos a dimensão cultural, fato esse<br />
positivo para os avanços da área, mas ao mesmo tempo uma armadilha, se não é<br />
esclarecido sob que conceito de cultura está se escrevendo. Portanto, enfatiza-se que<br />
será discutido o conceito de cultura e construção de conhecimento através das<br />
contribuições de Clifford Geertz e Marcel Mauss, tentando estabelecer algumas relações<br />
com a área, assim como já faz Daolio.<br />
Para Geertz (1989), a cultura é pública porque sua dinâmica implica<br />
comportamentos e ações humanas encarnadas em contextos específicos e por isso,<br />
dotados de significados próprios. Partindo desse pressuposto, a cultura passa a ser algo<br />
concreto, dinâmico, processual, mutante, vivo e, assim a antropologia se transforma em<br />
ciência interpretativa, ou seja, em busca de significados.<br />
A partir dessa concepção de cultura e antropologia, Geertz (1989) aprofunda a<br />
questão da intersubjetividade na relação do pesquisador-pesquisado, defendendo a<br />
intersubjetividade para compreender como o significado num sistema de expressão pode<br />
ser expresso noutro, “tarefa da hermenêutica cultural”. É importante esclarecer que esse<br />
autor abandona o racionalismo científico característico dos chamados “paradigmas da<br />
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