O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
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mais perigosas, lutando mesmo com elas, saltando valados, trepando em<br />
árvores as mais altas e desgalhadas, para se acomodar nas suas frondes,<br />
pulando de umas às outras como macacos, onde as nuvens batiam. E tiravam<br />
partido disso, tornando-se assim extraordinariamente ágeis e muito<br />
comumente um homem desarmava uma escolta, punha-a em desordem,<br />
fazendo-a fugir. Aplicava um jogo estranho de braços, pernas e tronco, com tal<br />
agilidade e tanta violência, capazes de lhe dar uma superioridade estupenda.<br />
Já, a capoeira carioca, que sempre se apresentou violenta, apelando para<br />
cabeçadas e murros, que acabava gerando disputas com armas brancas, pode ser<br />
constatado pelo texto de Rugendas de 1835 (apud Sodré, 2002, p.45), que diz<br />
Os negros têm um outro jogo guerreiro muito mais violento – capuëra: dois<br />
campeões atiram-se um sobre o outro, tentando derrubar o adversário com<br />
cabeçadas no peito. O ataque é evitado com saltos laterais e bloqueios<br />
igualmente hábeis. Mas acontece, ocasionalmente, acertarem cabeça contra<br />
cabeça com grande força, fazendo a brincadeira degenerar em luta, não raro<br />
com as facas ensangüentando o esporte.<br />
A capoeira mesmo com toda sua característica de luta pode ser caracterizada<br />
como jogo, porque o jogo implica regras, imitação, criatividade, envolve riscos,<br />
habilidades e prazer. A capoeira sempre implicou risco, simulação e descontração, seu<br />
espaço reservado é a roda, que envolve brincadeira e perigo, dependendo da<br />
personalidade de seus integrantes.<br />
Em Castro (2003), encontra-se uma descrição, a partir do discurso dos velhos<br />
Mestres. Assim, para alguns Mestres, capoeira é algo que não pode ser expresso em<br />
palavras, mas no gesto e expressão do capoeirista que a faz. Nela, há todo um conjunto<br />
de movimentos peculiares que pertencem à cultura afro-brasileira e que por isso, gera<br />
certo preconceito quanto à sua prática. Neste conjunto de gestos e expressões, deve-se ir<br />
além do cumprimento mecânico do ritual para evitar uma fragmentação, pois na capoeira<br />
tem-se a esfera do objetivo e do subjetivo, do movimento e do significado deste. No<br />
aprendizado, a maioria dos Mestres não seguem uma seqüência de planos de aula, mas<br />
uma percepção do que o aluno necessita. Muniz Sodré (2002, p.38) a esse respeito<br />
comenta:<br />
Tradicionalmente, o mestre não ensinava a seu discípulo, pelo menos no<br />
sentido que a pedagogia ocidental nos habituou a entender o verbo ensinar.<br />
Ou seja, o mestre não verbalizava, nem conceituava o seu conhecimento para<br />
transmiti-lo metodicamente ao aluno. Ele criava as condições de<br />
aprendizagem (formando a roda de capoeira) assistia a ela.<br />
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