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O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...

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Esse olhar antropológico sob sociedades contemporâneas pode ser<br />

contemplado com a noção de totalidade, que implica a compreensão de que, em qualquer<br />

realização do ser humano, podem ser encontradas as dimensões sociológica-histórica,<br />

psicológica e fisiológica. Essa abordagem tridimensional só é possível de ser alcançada<br />

porque essas dimensões constituem uma unidade, não pela simples junção das partes,<br />

mas, de fato, quando encarnada na experiência de qualquer membro de uma<br />

determinada sociedade. Mauss define o social como real, porém isto só é verdadeiro se<br />

integrado a um sistema, a representações coletivas, que podem ser consideradas a<br />

cultura ou as culturas que os indivíduos participam (Lévi-Strauss, 1974, p.14/15).<br />

Todo ser humano, mesmo inconsciente desse processo, é portador de<br />

especificidades culturais no seu corpo, pois cada sociedade marca nos órgãos dos<br />

sentidos dos seus indivíduos suas formas de perceber o mundo. Cada cultura pode<br />

enfatizar ou limitar um ou alguns sentidos (Rodrigues, 1987). Ainda segundo esse autor, o<br />

corpo humano, como qualquer outra realidade do mundo, é socialmente concebido e a<br />

análise de sua representação social oferece uma via de acesso à estrutura de uma<br />

sociedade particular. Cada sociedade determina um certo número de atributos que<br />

configuram o quê e como o ser humano deve ser, tanto do ponto de vista intelectual/moral<br />

quanto do ponto de vista físico. O corpo recebe a inscrição de todas as regras, normas e<br />

valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato primeiro com o meio<br />

que o cerca. Mesmo antes de a criança andar ou falar, ela já traz consigo alguns<br />

comportamentos sociais, o que permite dizer que o corpo é a expressão da cultura e<br />

então cita-se DaMatta (1987, p.76) “... tudo indica que existem tantos corpos quanto há<br />

sociedades”.<br />

Nesse sentido, Marcel Mauss (1974) foi o primeiro a incluir o corpo nos estudos<br />

antropológicos, o que ele chamou de “técnicas corporais”. Esse autor tem o mérito de ter<br />

considerado os gestos e os movimentos corporais como técnicas criadas pela cultura,<br />

passíveis de transmissão através das gerações e imbuídas de significados específicos.<br />

Afirmou também que uma determinada forma de uso do corpo pode influenciar a própria<br />

estrutura fisiológica dos indivíduos.<br />

O termo “técnicas corporais” pode soar estranho para um estudo que pretende<br />

fazer uma leitura de vários fatores (social/cultural e biomecânico) do movimento, porém é<br />

fundamental entender que para Mauss esse termo não significa apenas o emprego<br />

técnico do corpo para realizar determinadas funções, ele amplia esse conceito ao definir<br />

técnica como um ato que é ao mesmo tempo tradicional e eficaz e ao falar do corpo<br />

humano em técnicas corporais elevou-o ao nível de fato social, podendo, portanto, ser<br />

pensado em termos de tradição a ser transmitida através das gerações.<br />

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