O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
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ordem”, para inserir a categoria da (des)ordem. Essa categoria vem a se contrapor aos<br />
paradigmas da ordem, pois já que esses propunham o controle e domesticação da<br />
subjetividade, do indivíduo e da história, a proposição de Geertz, sobre a categoria da<br />
desordem se estabelece justamente quando esses elementos são transformados em<br />
intersubjetividade, individualidade e historicidade. De acordo com Oliveira (1988),<br />
a subjetividade que, liberada da coerção da objetividade, toma sua forma<br />
socializada, assumindo-se como intersubjetividade; o indivíduo, igualmente<br />
liberado das tentações do psicologismo, toma sua forma personalizada<br />
(portanto o indivíduo socializado) e não teme assumir sua individualidade; e a<br />
história, desvencilhada das peias naturalistas que a tornavam totalmente<br />
exterior ao sujeito cognoscente, pois dela se esperava que fosse objetiva,<br />
torna sua forma e se assume como historicidade. (p.97)<br />
A capoeira como prática ritualizada, não pode ser analisada parcialmente sem<br />
levar em consideração suas origens, sua historicidade e suas teias intersubjetivas, pois<br />
ela é uma representação coletiva enquanto manifestação, porém o fator que a mantém na<br />
dinâmica cultural é o fato de ser ela uma prática personalizada pela individualidade de<br />
cada mestre e de cada praticante.<br />
Durkheim, Mauss e Lévi-Strauss, pertencentes à Escola de Sociologia Francesa<br />
rompem com a idéia evolucionista de suas épocas e estruturam a antropologia e a<br />
sociologia pautadas na idéia de que não existem povos “não civilizados” mas civilizações<br />
diferentes. “A hipótese do homem ‘natural’ está definitivamente abandonada” (Mauss,<br />
1979, pp.10-11). Os costumes apresentam muitas vezes um caráter inconsciente,<br />
portanto é tarefa do etnógrafo buscar os fatos profundos, quase inconscientes, que<br />
existem nas tradições coletivas.<br />
Canclini (1983, p.19) atribui a essa perspectiva o rompimento com o<br />
evolucionismo linear da civilização e passa-se a ter outros pensamentos sobre os<br />
primitivos, os quais eram desqualificados. O mesmo preceito pode ser aplicado à cultura<br />
popular a partir da Idade Média em relação à cultura dominante ou de elite. Assim o<br />
conceito de cultura amplia-se e é entendido como tudo aquilo que foi produzido por algum<br />
ser humano, não importando o seu grau de complexidade e de desenvolvimento, sendo<br />
consideradas como integrantes da cultura todas as atividades humanas, materiais e<br />
ideais. “Todas as culturas, por mais rudimentares que sejam, são dotadas de estrutura,<br />
possuem no seu interior coerência e sentido”. Lévi-Strauss é um dos que tem combatido<br />
de modo mais rigoroso a pretensão ocidental de ser o ápice da História, de ter realizado o<br />
maior avanço em termos do aproveitamento do pensamento científico.<br />
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