O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...
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passageiro, mas que se corre o risco de ser permanente, portanto encantador, “é no<br />
ritual, pois, sobretudo no ritual coletivo, que a sociedade pode ter (e efetivamente tem)<br />
uma visão alternativa de si mesma”. Portanto, o rito é um veículo da permanência e da<br />
mudança (DaMatta, 1997, 39).<br />
A roda de capoeira é um campo de mandinga, é um campo astral, é um espaço<br />
de energia. A mandinga é a malícia com a qual, durante o jogo, o jogador desfaz uma<br />
situação e, quando o seu parceiro vir, é outra situação completamente diferente. É<br />
aplicado um golpe inesperado e o outro não consegue reagir, um parceiro engana o outro<br />
no jogo (Castro, 2003).<br />
É devido aos elementos ambíguos desta arte que os capoeiras falam jogar<br />
capoeira e não lutar capoeira, essa expressão também indica o caráter lúdico dessa<br />
manifestação cultural em que predomina a alegria e prazer pelo jogo/ritual. O jogo na<br />
capoeira representa uma constante negociação corporal em que cada jogador estabelece<br />
suas perguntas e responde as do outro. Num jogo malicioso e mandingueiro, os<br />
movimentos corporais parecem ser inteligíveis e decifráveis só para quem está jogando. A<br />
malícia vem acompanhada da surpresa, do lubridiar o outro, de improvisar com o vacilo<br />
próprio ou com o vacilo do outro. Segundo Falcão (2002, p.117), “o capoeira<br />
mandingueiro é imprevisível, astuto e envolvente, assim como eram os “mandigas” –<br />
povos originários da região da atual República do Mali, na África, tidos como grandes<br />
mágicos e feiticeiros”.<br />
A mandinga aparece no universo da Capoeira como um instrumento do<br />
capoeirista durante o jogo, que ajuda no seu desempenho no sentido de envolver o seu<br />
parceiro em tal contexto. É a possibilidade do capoeirista driblar o outro capoeirista. O<br />
capoeirista cria uma situação de brincadeira, de “faz de conta” e consegue mudar o<br />
sentido e o significado das coisas.<br />
Neste sentido, para Castro (2003), a mandinga pode ser considerada um<br />
“estado mágico” do capoeirista, no qual ocorre à mediação entre o visível e o invisível, o<br />
contexto geral e o contexto particular, o concreto (toda produção material) e o abstrato<br />
(enquanto sua subjetividade). Enfim, “é o ser em jogo, vivendo na produção coletiva da<br />
sociedade”.<br />
No jogo de capoeira, entre os jogadores e os participantes daquele contexto,<br />
ocorre um diálogo corporal constante, todos sintonizados no jogo. O jogo de capoeira<br />
constitui um espaço em que um corpo conversa com outro, a partir das relações<br />
estabelecidas no jogo e manifestadas em uma linguagem própria, dependendo da história<br />
de vida de cada um. Quando o capoeirista agacha ao pé do berimbau para o jogo não<br />
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