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O JOGO DA CAPOEIRA NO CONTEXTO ANTROPOLÓGICO E ...

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existe uma combinação de movimentos, pelo contrário, ocorre um processo de<br />

descoberta a partir do que cada um realiza durante o jogo.<br />

A partir do respeito a ritualização da capoeira, de conservar as tradições de seus<br />

antepassados, os capoeiristas convivem com uma mediação entre a preservação do<br />

legado cultural e sua mutação a partir do mundo globalizado. Ao contrário do esporte<br />

institucionalizado, na roda de capoeira quem comanda são os integrantes do contexto,<br />

respeitando sempre os mais experientes (mestres de capoeira). A roda é considerada o<br />

principal palco das representações sociais, e nela se encontram os elementos estéticos<br />

do cotidiano dos capoeiras. De acordo com Castro (2003), “o Tempo de duração da Roda<br />

é um tempo despreocupado”, por isso geralmente não tem um tempo determinado para<br />

terminar a roda e o tempo de duração do jogo é comandado pelo bom senso do mestre,<br />

que,<br />

com sua arte de inventar, eles não têm pressa de jogar, de cantar, de ensinar<br />

e de ser. São os verdadeiros mandingueiros do tempo. Maliciosos até a alma<br />

apresentam sagacidade de negar e de afirmar, de sumir e de aparecer, de rir e<br />

de chorar; enfim de subjetivar e materializar (Castro, 2003).<br />

Esses elementos do jogo mandigueiro ajudam a compreender e a conviver com<br />

a maldade do mundo (as dificuldades, a opressão), o capoeirista recorre, além do jogo<br />

propriamente dito, ao místico e ao mágico passado por esse jogo. Não se pode entender<br />

a capoeira ou qualquer outra manifestação da cultura negra sem falar da sua religião, de<br />

sua cultura como um todo. Na música, na letra das ladainhas, na percussão dos<br />

instrumentos, na síncopa, perpassa todo o místico da roda de capoeira. O berimbau é o<br />

“guia” da roda; o que ele toca, o capoeirista executa no jogo. Esta forte presença do<br />

místico e do religioso, é própria de uma cultura repleta de um simbolismo interminável,<br />

muito embora, grande parte dos capoeiristas atuais, formados no mundo globalizado, não<br />

mais acreditam neste místico/religioso, na possibilidade da oração, do “corpo fechado”, do<br />

“patuá” e da “mandinga” 10 .<br />

Lima (1991, p. 134 apud Oliveira, 2002) afirma que a relação da Capoeira com a<br />

vida acaba determinando um “portar-se” do capoeirista jogador. O capoeirista não é<br />

exibicionista, não prova nem mostra o que sabe, tem consciência de que, por mais que<br />

10 Trabalhos de oferendas e pedidos a entidades espíritas (orixás) pedindo proteção ou<br />

realização de desejos pessoais que podem ser bons ou ruins de acordo com a situação. No<br />

livro de Rego (1968) podemos ler exemplos de como ocorre essa ligação entre capoeira e<br />

candomblé.<br />

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