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Condições e contradições <strong>da</strong><br />
utopia radiofônica comunitária<br />
As rádios comunitárias 1<br />
Valdir de Castro Oliveira<br />
O objetivo central desse trabalho é o de refletir sobre os limites e os alcances<br />
<strong>da</strong>s rádios comunitárias em seu formato tradicional de transmissão, por meio <strong>da</strong>s<br />
on<strong>da</strong>s eletromagnéticas (on<strong>da</strong>s hertzianas), mas sem deixar de reconhecer a importante<br />
e rápi<strong>da</strong> transformação tecnológica que traz profun<strong>da</strong>s transformações<br />
nas condições de produção e circulação <strong>da</strong>s mensagens e dos dispositivos radiofônicos<br />
com o advento <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s webradios 2 .<br />
Entre outras variáveis tecnológicas determinantes que contribuíram para a<br />
rápi<strong>da</strong> disseminação do rádio em todo o mundo, destacamos aqui a portabili<strong>da</strong>de<br />
que facilitou o seu acesso a milhões de pessoas com a chega<strong>da</strong> do transistor.<br />
A própria indústria automobilística incorporou o rádio aos milhões de carros<br />
que produz e provocou o hábito de escutá-lo, em trânsito ou não, graças aos<br />
aparelhos receptores. E, se nos domicílios ele perdeu a sua centrali<strong>da</strong>de para a<br />
televisão e a internet, ele continua sendo diuturnamente captado na cozinha,<br />
nos quartos, nas varan<strong>da</strong>s, em aparelhos receptores convencionais ou através <strong>da</strong><br />
internet. Também com a evolução tecnológica foi possível simplificar a trans-<br />
1 Embora, do ponto de vista prático, o fenômeno <strong>da</strong>s rádios comunitárias possa ser observado em vários<br />
lugares do mundo e em diferentes momentos históricos, de acordo com Paulo Fernando Silveira, a expressão<br />
“rádios comunitárias” é tipicamente brasileira e de recente divulgação. Registra ele que “tudo começou no fim<br />
<strong>da</strong> primeira metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, quando algumas enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s, sem fins lucrativos, com finali<strong>da</strong>des<br />
educativas, culturais, filantrópicas, regularmente registra<strong>da</strong>s em cartórios, atentas às necessi<strong>da</strong>des de comunicação<br />
de que careciam as comuni<strong>da</strong>des municipais, as quais não dispunham regularmente do serviço de<br />
radiodifusão, e inconforma<strong>da</strong>s com o fato de o Governo Federal não deferir os pedidos de autorização para<br />
operarem no sistema de radiodifusão de pequena potência e alcance limitado, em nível local, de Município,<br />
sem ao menos fun<strong>da</strong>mentar o engavetamento, começaram a instalar esse tipo de estação de radiofrequência,<br />
enquanto aguar<strong>da</strong>vam a autorização governamental, ou simplesmente requerê-la” (SILVEIRA. 2001, p. 4).<br />
2 Há uma longa discussão a respeito <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des tecnológicas e o impacto que elas têm e podem ter<br />
no dispositivo radiofônico. Esses impactos interferem profun<strong>da</strong>mente na constituição dos gêneros radiofônicos<br />
(discurso verbal, efeitos sonoros e textos), reconfigurando as condições de produção <strong>da</strong> produção radiofônica,<br />
conforme mostra Nair Prata em sua tese de doutorado intitula<strong>da</strong> Webradio: novos gêneros, novas formas de interação.<br />
(Tese de doutorado, Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais/Facul<strong>da</strong>de de Letras, 2008, com orientação<br />
<strong>da</strong> professora Vera Lúcia Menezes de Oliveira Paiva).<br />
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