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personagem que se introduz na vi<strong>da</strong> concreta de seus ouvintes, quebra a rotina<br />
dessas vi<strong>da</strong>s e oferece à imaginação um cotidiano mais rico, possível de ser<br />
confrontado. A imaginação, que necessariamente completa a mensagem radiofônica<br />
nutre-se do imaginário coletivo, mas se enraíza nessa interseção entre o<br />
coletivo e a vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, que fun<strong>da</strong> os sonhos, as fantasias e as condições <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> cotidiana.<br />
Assim, a imaginação é um elemento que distingue e multiplica o sentido de um<br />
discurso, mas é também o elemento que permite a identificação do texto como<br />
fonte de “interligação” de uma comuni<strong>da</strong>de de ouvintes.<br />
As noções de imaginação e imaginário são usa<strong>da</strong>s aqui como categorias distintas,<br />
mas interdependentes. A capaci<strong>da</strong>de que possui o espírito humano de criar<br />
imagens não se reduz à representação <strong>da</strong>s coisas e/ou fatos percebidos. Os homens<br />
percebem e apreendem o mundo através de sua capaci<strong>da</strong>de de raciocínio<br />
“analógico”. É através dessa capaci<strong>da</strong>de analógica que os homens constroem suas<br />
vi<strong>da</strong>s, interligando a racionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> concreta e os sonhos, que são induzidos<br />
pelos sentimentos.<br />
É nesse sentido que a noção de imaginário convém a este estudo. O imaginário<br />
se apresenta como o ponto de interseção entre dois eixos de expressão<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: o compromisso com a produção do mundo útil e a descoberta<br />
<strong>da</strong> expressão/existência de uma vi<strong>da</strong> real cria<strong>da</strong> pela imaginação. É preciso<br />
observar que não se trata aqui de um real recoberto pela fantasia, pelo sonho<br />
ou pela ficção. A concepção de imaginário, proposta como pertinente a este<br />
estudo, está enraiza<strong>da</strong> no real e encontra no cotidiano to<strong>da</strong> a sua potência. É<br />
na trajetória do cotidiano, em seu exercício de produzir e representar a vi<strong>da</strong> de<br />
todos os dias que o imaginário conquista seu espaço como elemento do real.<br />
O cotidiano, reproduzindo a ca<strong>da</strong> momento sua trajetória, mergulha na sua<br />
própria fantasia e lá ele encontra a possibili<strong>da</strong>de de um real mais vivo e mais<br />
fantástico.<br />
Assim, é o imaginário que vai fornecer as condições de múltiplas leituras de um<br />
mesmo discurso na medi<strong>da</strong> em que, na sua forma de representação, ele mantém o<br />
real como raiz e lugar de explosão <strong>da</strong> fantasia. Os exemplos contidos nas falas dos<br />
radialistas e dos ouvintes mostram bem o rádio como esse espaço onde a imaginação<br />
desmonta o real e capta de seu interior um cotidiano renovado, iluminado<br />
pela força do imaginário. Como diz este testemunho:<br />
O rádio é informação, companhia, prestação de serviço, mas,<br />
antes de tudo – e o mais importante –, é ele que nos abre a possibili<strong>da</strong>de<br />
do sonho.<br />
201