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não se coaduna com a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des ou com as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />
comunicação comunitária radiofônica.<br />
Entretanto, além dessas dimensões restritivas impostas pela legislação, as rádios<br />
comunitárias, como dissemos anteriormente, sofrem uma forte oposição política<br />
por parte <strong>da</strong> Abert – Associação Brasileira de <strong>Rádio</strong>s e Televisão –, que representa<br />
o interesse <strong>da</strong>s empresas de comerciais de comunicação do Brasil, cuja maioria<br />
é confessa<strong>da</strong>mente contrária à difusão radiofônica comunitária. Não há dúvi<strong>da</strong><br />
alguma de que as restrições menciona<strong>da</strong>s na lei foram fruto do lobby dessa enti<strong>da</strong>de<br />
no Congresso Nacional, graças à acolhi<strong>da</strong> por muitos congressistas ligados,<br />
direta ou indiretamente, a empresas de comunicação. Diante desse poder, ventriloquamente,<br />
o discurso <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des de comunicação bate na mesma tecla dos<br />
representantes <strong>da</strong> Abert, principalmente quando diz respeito às preocupações e<br />
os temores <strong>da</strong>s emissoras comerciais na briga pelo monopólio do bolo publicitário,<br />
conforme atesta artigo do ex-ministro Pimenta <strong>da</strong> Veiga no jornal Folha de<br />
São Paulo 8 , ao reiterar, explicitamente, que as rádios comunitárias “não podem se<br />
valer de verbas provenientes de publici<strong>da</strong>de”, o que muito tranquiliza a Abert. As<br />
perguntas que ficam são: Por que as rádios comunitárias devem se ater a uma morali<strong>da</strong>de<br />
franciscana e por que elas não podem disputar o mercado publicitário?<br />
É certo que a Abert hoje não se manifesta aberta e contrariamente às rádios<br />
comunitárias legaliza<strong>da</strong>s, desde que se enquadrem nas restrições <strong>da</strong> Lei 9.612,<br />
de 1998, mas sim contra o que chama de rádios piratas ou clandestinas, que funcionam<br />
ao arrepio <strong>da</strong> lei. Como forma de combatê-las se vale de propagan<strong>da</strong><br />
denunciando--as como altamente perigosas para a segurança pública, pois suas<br />
transmissões eletromagnéticas clandestinas, supostamente, colocam em risco o<br />
tráfego aéreo e interferem nas transmissões dos órgãos de segurança e <strong>da</strong>s rádios<br />
e televisões comerciais.<br />
Entretanto, conforme observou o jornalista Nivaldo Manzano, a oposição <strong>da</strong><br />
Abert se dá também pelo fato de as rádios comunitárias terem representativi<strong>da</strong>de<br />
na disputa pelo poder político no Brasil. Segundo ele, “60% dos parlamentares<br />
são proprietários ou sócios de empresas de comunicação de massa, e os demais,<br />
dependentes delas para se reeleger. Agora prevê-se, por exemplo, autorização para<br />
um único canal (canal convencional) por região (quando a tecnologia permite a<br />
operação de muitos), funcionando a menor potência para não estragar os negócios<br />
<strong>da</strong> Abert” 9 .<br />
8 “A Voz do Bairro”. Artigo publicado pelo ministro <strong>da</strong>s Comunicações Pimenta <strong>da</strong> Veiga no jornal Folha<br />
de São Paulo na edição de 14/2/2000, pág. 3.<br />
9 Manzano, Nivaldo. “Com Unhas e Dentes”. Boletim do Observatório de Imprensa. Dezembro de 1997.<br />
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