You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
com o modelo midiático de comunicação caracterizado pelo monopólio <strong>da</strong> palavra<br />
e <strong>da</strong> interpretação sobre os fatos e os acontecimentos. Nessa mesma direção as<br />
reivindicações comunitárias por obras, serviços e assistência ganham visibili<strong>da</strong>de<br />
no espaço público <strong>da</strong>s rádios comunitárias. Com isso o novo paradigma comunicacional<br />
radiofônico ensejado se propõe a <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de à ação e aos discursos<br />
de diferentes atores sociais que hoje estão confinados ao silêncio pela mídia convencional<br />
para que possam atuar no espaço público e interferir em ações políticas<br />
e sociais.<br />
Pressupõe-se, nesse contexto, que as emissoras radiofônicas comunitárias sejam<br />
idealmente considera<strong>da</strong>s como espaços de organização social, indutoras do estabelecimento<br />
de pautas e temas de determina<strong>da</strong>s coletivi<strong>da</strong>des e instâncias para<br />
se invocar a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições diante do interesse comunitário.<br />
Tornam-se assim as emissoras comunitárias em agentes de mu<strong>da</strong>nças e corresponsáveis<br />
pela tematização 6 de determinados assuntos na esfera pública na qual<br />
atuam em consonância com os campos de interesse público e a mobilização <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong>de em seu entorno.<br />
Esse processo contribui para fazer emergir o ideal de um espaço comunicativo<br />
criador e democrático, onde deve estar presentes à plurali<strong>da</strong>de de opiniões e de<br />
informações enquanto fórum de discussão, denúncia, mobilização, registro sensível<br />
do cotidiano social e promoção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, o que estamos chamando de<br />
utopia comunicacional radiofônica comunitária, como veremos a seguir.<br />
A utopia comunicacional radiofônica comunitária<br />
Se, de um lado, a maioria <strong>da</strong>s experiências de rádios populares ou comunitárias<br />
funciona ao arrepio <strong>da</strong> lei, algumas assim o fazem conscientemente como um ato<br />
de desobediência civil diante do que consideram um arbítrio – a intervenção e a<br />
regulamentação do Estado que têm como um obstáculo à livre expressão em contradição<br />
com o artigo 5º <strong>da</strong> Constituição Federal. Por outro lado, é nesse mesmo<br />
contexto que emergem os vários movimentos populares pela democratização <strong>da</strong><br />
comunicação, que criam ou estimulam a implantação <strong>da</strong>s emissoras radiofônicas<br />
comunitárias, sob diferentes denominações: comunitárias, populares ou rádios li-<br />
6 Entendo como tematização a relevância e o tratamento <strong>da</strong>dos a determinado(s) tema(s) em um conjunto<br />
infinito de temas, facilitando a atenção do público a partir <strong>da</strong> redução de sua complexi<strong>da</strong>de. Significa que a<br />
tematização é um processo de seleção, hierarquização e valorização de determinados assuntos, visando facilitar<br />
a sua discussão por parte dos públicos que constituem a esfera pública. A comunicação processa<strong>da</strong> pelo<br />
campo midiático torna-se responsável pela “pe<strong>da</strong>gogização” dos temas, tornando os seus conteúdos claros e<br />
inteligíveis para o maior número possível de pessoas e, simultaneamente, contribuindo para que sejam processados<br />
pelo sistema político em termos operacionais ou decisórios.<br />
176