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TEORIA DA LITERATURA II - Universidade Castelo Branco

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também, algumas narrativas (excepcionais) de Érico<br />

Veríssimo, as quais foram avaliadas como novelas, em<br />

um passado ainda muito próximo, colocando-as como<br />

representantes do romance do século XX. Basta-nos,<br />

por exemplo, passar os olhos em E o resto é silêncio,<br />

de autoria deste renomado escritor gaúcho, para<br />

imediatamente compreendermos o engano dos<br />

conceituados teóricos que avaliaram o grande escritor<br />

das reminiscências dos pampas como novelista. Diante<br />

de tais enganos, torna-se clara a necessidade de<br />

renovarmos nossos conceitos teórico-críticos,<br />

principalmente pelo fato de que escritores como Jorge<br />

Amado foram mal avaliados pelos críticos dos anos<br />

setenta no Brasil. Só depois de o mesmo ser aplaudido<br />

na França, alguns críticos de cá começaram a prestigiálo.<br />

A maioria dos críticos brasileiros, dos anos sessenta<br />

aos anos oitenta, não estava preparada para<br />

compreender o fato de que o escritor baiano possuía<br />

sim muita criatividade ficcional. Uma ficção voltada<br />

para os valores da Bahia, é bem verdade, mas, também,<br />

propensa a alcançar o panteon da glória universal e<br />

ser aclamada pelos pósteros (os únicos que saberão<br />

com certeza avaliar o que seja literatura-arte).<br />

Enfim, retomando o assunto de nosso interesse, foi<br />

Aristóteles que considerou os dois modos<br />

fundamentais da mimese na poesia, em outras palavras,<br />

o modo narrativo, o que atualmente se conhece como<br />

Gênero Épico, ou Epopéia, escrita em versos, ou<br />

Narrativa em versos, com seus fenômenos estilísticos<br />

tradicionais, e o modo dramático, ou Gênero Dramático,<br />

conhecido à época de Aristóteles, como Poesia Trágica<br />

e Poesia Cômica, uma vez que os Gêneros, na<br />

Antiguidade Clássica, grega e romana, e mesmo na<br />

Idade Média, eram escritos em versos. Lembremo-nos<br />

que a prosa ficcional, enquanto Ficção-Arte, só se<br />

materializou a partir do século XV<strong>II</strong> (até prova em<br />

contrário), com o Dom Quixote, de Miguel de<br />

Cervantes, obra esta que deu início ao que<br />

conceituamos como Gênero Narrativo em Prosa (ou<br />

Gênero Ficcional, ou Romance Complexo da Era<br />

Moderna).<br />

Horácio, escritor latino, preocupou-se também com a<br />

Questão dos Gêneros Literários. Em seu livro Epistula<br />

ad Pisones, uma espécie de manual para o<br />

reconhecimento da literatura, direcionado aos irmãos<br />

Pisões, oriundos de uma família tradicional de sua<br />

época, por intermédio de preceitos particulares, ele<br />

propicia uma renovação, avançadíssima para a época,<br />

na evolução da compreensão dos conceitos gregos<br />

de Gêneros Literários. Para Horácio, o que se conhece<br />

por Gênero Literário liga-se à questão da tradição<br />

formal, acrescida indubitavelmente por um certo tom,<br />

os quais revelariam (a tradição formal e o tom, oriundos<br />

da palavra escrita) o Gênero Literário de cada texto<br />

averiguado. Sendo assim, o iambo, um metro poético<br />

conhecido só pelos antigos gregos e romanos,<br />

desconhecido nas formas atuais da poesia, seja ela<br />

épica ou lírica, seria, para Horácio, o metro mais<br />

semelhante à linguagem coloquial, e por esta razão,<br />

foi o metro preferido dos dramaturgos antigos na<br />

elaboração da ação dramática (poesia trágica e poesia<br />

cômica). Submetido às suas assertivas, Horácio, não<br />

aceitou a mistura dos gêneros literários (mistura esta<br />

que só foi reconsiderada séculos depois, e, mesmo<br />

assim, não logrou tornar-se sacralizada). Para Horácio,<br />

o estilo próprio de cada modalidade genérica era algo<br />

inconfundível, e cada poeta adaptava-se aos seus<br />

assuntos, revelando ritmo, tom e metro adequados ao<br />

estilo de cada gênero literário. Para Horácio, os temas<br />

de cada poeta deveriam ter forma própria. Horácio não<br />

admitia hibridismo, quando o assunto era literatura. A<br />

literatura resguardava uma finalidade moral e uma<br />

finalidade didática, pois, em sua época, a literatura era<br />

vista como instrumento de educação, sim, mas, também,<br />

se revelava um instrumento de prazer indescritível, nos<br />

quais as regras exigiam respeito, derivadas que eram<br />

de modelos ideais.<br />

Do final da Idade Média ao início da Era Moderna,<br />

depois do não muito explicado “momento das trevas”<br />

da Alta Idade Média, assinalou-se o ressurgimento da<br />

Poética de Aristóteles. O que Aristóteles considerou<br />

como bipartição, realçando apenas a poesia narrativa<br />

e a poesia dramática, supostamente deixando de lado<br />

a poesia lírica, uma vez que não se tem notícia de suas<br />

idéias sobre a poesia lírica (talvez, perdidas nos<br />

subterrâneos da História Literária), os renascentistas<br />

substituíram a divisão de Aristóteles pela chamada<br />

“tripartição dos gêneros literários”, ou seja, uma<br />

divisão da poesia em poesia épica, poesia lírica e poesia<br />

dramática. Havia a necessidade, à época do início da<br />

Era Moderna, de se desenvolver uma classificação<br />

consciente das obras anteriores e, principalmente, das<br />

que viriam a ser escritas, gradativamente. Essa decisão<br />

dos estudiosos quinhentistas só se fez visível porque,<br />

os mesmos, não tinham como classificar as Odes de<br />

Horácio e tampouco o Cancioneiro de Petrarca, os<br />

quais não se ajustavam naquilo que se conhecia como<br />

poesia épica e/ou poesia dramática. Por tais razões,<br />

uma vez que as idéias de Horácio já se faziam<br />

conhecidas pelos estudiosos do quinhentos, estes<br />

desenvolveram argumentações em prol de um terceiro<br />

gênero literário, o qual ficou conhecido como Gênero<br />

Lírico, ou seja, a Poesia Lírica.<br />

Foi o classicismo francês que propagou os conceitos<br />

de gêneros literários, elaborados pelos antigos gregos<br />

e romanos (Platão, Aristóteles e Horácio). A partir dos<br />

pensadores franceses, da época do renascimento, foi<br />

que cada gênero passou a ser classificado como<br />

“essência eterna, fixa e imutável”. Mas, com o passar<br />

do tempo, a poética disseminada pelos franceses<br />

sofreu questionamentos e não pode se colocar como<br />

verdade indestrutível. Foi a partir daí que iniciaram-se<br />

as polêmicas em torno do assunto, o que conhecemos

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