TEORIA DA LITERATURA II - Universidade Castelo Branco
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contradição. Ambos propõem impossíveis, para<br />
solucioná-los pelos mesmos meios rigorosamente<br />
simétricos, que parecem obedecer ao capricho e à<br />
fantasia, quando, na realidade, tudo resulta<br />
perfeitamente ordenado e conduzido até o fim. No fim,<br />
a disposição geométrica dos assuntos e dos<br />
personagens se associa, em ambos os casos, com uma<br />
fantasia verbal, com uma graça, com um estro poético<br />
igualmente inconfundíveis.<br />
Se houve influência, isto supõe a existência de uma<br />
relação de contato, e por conseguinte de um contato<br />
material de Marivaux com a obra de Calderón.<br />
Por outro lado, a influência não é como a tradução,<br />
que se identifica a si mesma. // Não é como a imitação,<br />
que se reconhece por meio de um simples cotejo de<br />
textos.<br />
Quando não há provas:<br />
A INFLUÊNCIA só se pode comprovar por meio de<br />
análises intrínseca e comparativa. // Naturalmente, é<br />
preferível possuir provas históricas.<br />
Se estamos seguros de sua existência, ou se<br />
damos por averiguado o que não o é, resulta<br />
que a influência de Calderón sobre Marivaux,<br />
que se pode explicar pelo contato com o poeta<br />
espanhol e por sua frequentação e admiração,<br />
ou seja, sua técnica dramática considerada como<br />
um arreglo simétrico e confiado em aparência<br />
de azar.<br />
A influência não é algo palpável que se denuncia a si<br />
mesma, como a tradução ou a imitação, e que não se<br />
impõe com evidência como única solução possível.<br />
Dentro de um método, o estudo das influências se<br />
pode enfocar de vários modos, segundo os critérios<br />
que se queiram aplicar ao assunto.<br />
Se podem tomar em consideração, indiferentemente:<br />
- os agentes da transmissão literária;<br />
- a materialidade do sentido ou do recebido;<br />
- a natureza ou o gênero literário do transmitido, que<br />
pode variar entre os dois extremos da transmissão.<br />
Do ponto de vista dos agentes de transmissão, se<br />
deve ter em conta a existência, naquilo que até agora<br />
chamamos de equação comparatista, de um EMISSOR<br />
e de um RECEPTOR.<br />
EMISSOR ORIGINAL - Casos de tradução<br />
EMISSOR MODELO - Casos de imitação<br />
EMISSOR FONTE - Casos de influência<br />
Sobre o problema da terminologia na Literatura<br />
Comparada:<br />
A tradução e a imitação têm nomes próprios,<br />
mas quando se trata de influência não tem. Não<br />
há nenhum nome particular para indicá-la.<br />
O VER<strong>DA</strong>DEIRO OBJETO DO ESTUDO<br />
COMPARATIVO:<br />
É aquela parte da obra e das concepções de um<br />
autor que se transmite, se adota e se assimila na<br />
obra de um outro autor.<br />
Influências detectáveis:<br />
RELAÇÕES DE CONTATO:<br />
Quando um dos termos da equação comparatista é<br />
uma obra literária determinada; quando, por<br />
conseguinte, o passar de uma literatura a outra supõe<br />
a existência deste misterioso processo, desta<br />
elaboração ao cabo da qual o bem artístico ou cultural<br />
próprio de uma literatura foi trasladado e apropriado<br />
por uma literatura diferente, então as relações de<br />
contato adquirem sua verdadeira significação, e o<br />
histórico cede a prioridade ao comparativo e ao crítico.<br />
Neste caso, o objeto do estudo já não interessa como<br />
documento, mas como obra de arte. A finalidade do<br />
estudo não é a comparação, mas a determinação dele<br />
(do estudo) como, comparação, ou seja, das<br />
modalidades e dos matizes da transmissão. Enfim, se<br />
se nos permite representar estas idéias por meio de<br />
uma linguagem não de todo apropriada, mas talvez<br />
mais expressiva, o método de investigação já não é<br />
análise quantitativa, mas a qualitativa.<br />
Textos poéticos para comparação:<br />
CANÇÃO DO EXÍLIO<br />
Gonçalves Dias<br />
(Coimbra, julho, 1843, Primeiros Cantos)<br />
Minha terra tem palmeiras, (1)<br />
Onde canta o Sabiá, (2)<br />
As aves que aqui gorjeiam,<br />
Não gorgeiam como lá.<br />
Nosso céu tem mais estrelas,<br />
Nossas várzes têm mais flores,<br />
Nossos bosques têm mais vida, (3)<br />
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