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TEORIA DA LITERATURA II - Universidade Castelo Branco

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consciente, observar as sugestões oferecidas pela<br />

própria obra, pelo próprio texto, relacionando razão e<br />

compreensão: A obra impõe a sua verdade e, portanto,<br />

o seu próprio método a ser utilizado. Não se pode<br />

dissociar a Crítica da Arte.<br />

Em conseqüência deste impasse, a maneira de como<br />

interpretar um texto literário tornou-se um problema<br />

nos meios acadêmicos. (Não estou referindo-me aos<br />

teóricos conceituados). O que se observa atualmente,<br />

entre os alunos de Letras, é a utilização aleatória de<br />

todas as correntes críticas. Há um cruzamento de<br />

nomenclaturas que, ao invés de esclarecer a mensagem,<br />

torna-a ilegível.<br />

Reconheço que este problema se origina no fato de o<br />

aspirante à função de Crítico Literário não possuir um<br />

conhecimento de base, já que o mesmo desconhece<br />

os postulados fundamentais de cada corrente crítica.<br />

No que se refere à Hermenêutica, por exemplo, o<br />

problema torna-se mais grave, por esta ter sua origem<br />

nos primórdios da História religiosa do homem<br />

ocidental. Fala-se muito em Hermenêutica, mas não<br />

há, nos meios acadêmicos, um conhecimento correto<br />

em relação à mesma. Desconhecem-se seus<br />

questionamentos de origem, sua ligação com os Textos<br />

Sagrados, as divergências que a marcaram no decorrer<br />

de sua história, a sua posterior incursão nos domínios<br />

da Filosofia e da Literatura.<br />

Por estas razões, farei uma breve retrospectiva da<br />

História da Hermenêutica, desde o seu advento, em<br />

que o que a preocupava era o problema da correta<br />

interpretação dos Textos Sagrados. Esta retrospectiva<br />

baseia-se em dados oferecidos por Emerich Coreth (op.<br />

cit.), e tem por objetivo inicial reconhecer a história do<br />

problema teológico e a sua ligação com as questões<br />

hodiernas da Hermenêutica, ou seja, a questão do<br />

conhecimento ao se contemplar as obras literárias não<br />

religiosas. A seguir, por esta mesma retrospectiva,<br />

buscarei um diferente olhar crítico, o qual irá<br />

proporcionar-me a defesa de meu objetivo central:<br />

provar a possibilidade de uma colaboração consciente<br />

da Semiologia da Literatura com o desenvolvimento<br />

da Hermenêutica de um determinado texto.<br />

UMA RETOMA<strong>DA</strong> <strong>DA</strong> HISTÓRIA <strong>DA</strong><br />

HERMENÊUTICA<br />

Muito antes de se pensar na Hermenêutica como a<br />

concebemos hoje, ou seja, como Ciência da<br />

Interpretação e da Observação Crítica – ciência que<br />

questiona a correta interpretação dos textos literários<br />

, já a questão era problematizada pelos intérpretes (os<br />

antigos “escribas”) das mensagens contidas no<br />

Antigo Testamento. Emerich Coreth, ao se referir aos<br />

escribas, situa-os como os primeiros exegetas que<br />

procuravam questionar a importância de uma correta<br />

interpretação dos Textos Sagrados. Observe-se que<br />

esses textos anunciavam o nascimento do Salvador, e<br />

os mesmos eram interpretados por sacerdotes rudes,<br />

os quais legaram à posteridade suas interpretações<br />

ambíguas. Com o advento do Novo Testamento, as<br />

ambigüidades se desfazem, pois quem as esclarece<br />

não é outro senão o próprio Filho de Deus, o Salvador<br />

esperado. Segundo Coreth, o Novo Testamento se<br />

coloca, desde as primeiras páginas, como o único<br />

intérprete autêntico das Mensagens Sagradas.<br />

Reavaliando as palavras de Coreth por uma diretriz<br />

interpretativa, isto se deve ao aval de Jesus Cristo, ao<br />

procurar elucidar, para as multidões que o<br />

acompanhavam, todas as ambigüidades do Antigo<br />

Testamento anteriormente questionadas, algumas que<br />

foram interpretadas incorretamente, de acordo com o<br />

que nos passa o Novo Testamento.<br />

Jesus Cristo posicionou-se como o fecho de um ciclo<br />

da História dos hebreus e a estrutura basilar de uma<br />

nova etapa da História da humanidade. Se graças à<br />

sua interpretação os Textos Sagrados ficaram<br />

devidamente esclarecidos, ou se o povo acatava os<br />

ensinamentos sem formular questões, quanto à<br />

profundidade do que era recebido – haja vista as<br />

parábolas simplificadas –, o mesmo não aconteceu<br />

posteriormente. Coreth alerta para toda uma<br />

problemática da compreensão, tanto do Antigo quanto<br />

do Novo Testamento, envolvendo os exegetas dos<br />

Textos Sagrados, desde o século <strong>II</strong> d. C. Menciona as<br />

divergências existentes entre os padres que seguiam<br />

as orientações da Escola de Antioquia, em contraponto<br />

com os postulados da Escola Alexandrina. Situa esse<br />

momento como marco de um futuro problema<br />

hermenêutico, pois, se uma Escola procurava ressaltar<br />

o sentido histórico contido na Bíblia (Escola de<br />

Antioquia), a outra colocava em evidência a<br />

necessidade de se atingir o sentido espiritual que se<br />

evolava das páginas sagradas. Esses dois pontos de<br />

vista divergentes atestam o caráter polêmico da Bíblia<br />

(como repositório das mais diversas expressões<br />

literárias), sem, contudo, despojar-se de sua condição<br />

de reveladora da palavra de Deus. Atestam, inclusive,<br />

a dificuldade do intérprete de ater-se a uma<br />

interpretação consensual. Coreth informa ainda que<br />

Orígenes [um estudioso preocupado em unir a<br />

investigação histórico-filológica do texto a uma<br />

noção distinta dos vários sentidos que se podem<br />

destacar do mesmo] procurava ligar as duas correntes<br />

conscientemente, procurando desenvolver uma<br />

investigação cuidadosa. Prosseguindo em sua<br />

recapitulação histórica do problema teológico,<br />

ressalta, cuidadosamente, as divergências de opiniões<br />

entre São Jerônimo e Santo Ambrósio, bispo de Milão,<br />

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