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TEORIA DA LITERATURA II - Universidade Castelo Branco

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80<br />

2.18 - REAVALIANDO A ATUAÇÃO <strong>DA</strong><br />

CRÍTICA LITERÁRIA<br />

Neuza Machado *<br />

Sem dúvida um pensamento que não se arme<br />

dialeticamente permanecerá inteiramente perdido<br />

diante de um fenômeno tão multidimensional como é o<br />

literário. Na chave da dicotomia, as categorias se<br />

opõem excluindo-se mutuamente. Somente os<br />

pensadores tricótomos pensam no eixo da contradição,<br />

admitindo um terceiro elemento como mediador<br />

dialético. E só estes possuem olhos para penetrar nas<br />

esquinas secretas dos caminhos da arte. 1<br />

APRESENTAÇÃO<br />

Esta reflexão teórico-crítica tem por fim provar a<br />

possibilidade de uma colaboração da Semiologia de<br />

Segunda Geração (Estudos Analíticos da Literatura)<br />

com o desenvolvimento da Hermenêutica de um<br />

determinado texto (âmbito do Conhecimento).<br />

Não se trata de qualquer texto, como se verá, já que<br />

cada obra impõe o seu próprio método de análise e/ou<br />

interpretação. Mas, no tipo de texto que pretendo<br />

intermediar criticamente (A hora e vez de Augusto<br />

Matraga, de Guimarães Rosa, o qual fez parte de minha<br />

Dissertação de Mestrado, em 1990, e, posteriormente,<br />

de minha Tese de Doutorado, em 1996), a Semiologia<br />

de Segunda Geração (de Roland Barthes, Umberto Eco<br />

e Anazildo Vasconcelos da Silva), certamente, oferece<br />

um corpo teórico, para a análise, e colabora com a<br />

posterior interpretação hermenêutica, possibilitando<br />

uma interação paradigmática consciente, de acordo<br />

com as exigências críticas atuais, voltadas à<br />

interdisciplinaridade.<br />

Para que esta propedêutica não se desvirtualize (já<br />

que a direciono aos alunos de graduação em Letras),<br />

começarei resenhando o livro de Emerich Coreth,<br />

Questões Fundamentais de Hermenêutica 2 , sobre a<br />

história do problema hermenêutico. A seguir,<br />

desenvolverei alguns dos principais elementos<br />

metodológicos do movimento hermenêutico do século<br />

XIX e verei o relacionamento dialético entre<br />

Hermenêutica e Ciência, a partir de Richard Palmer 3 e<br />

Paul Ricoer 4 , discutindo as noções de compreensão,<br />

interpretação e o problema do método crítico. Ressalto<br />

que apoiar-me-ei nas conclusões do Professor Eduardo<br />

Portella (escritas na década de setenta, mas ainda<br />

atuais), para superar determinados impasses teóricos,<br />

já que colocarei a Semiologia de Segunda Geração<br />

(própria para análises literárias) como Ciência Auxiliar<br />

à compreensão dos sentidos. Para tal empresa, utilizarei<br />

também alguns postulados do semiólogo italiano<br />

Umberto Eco. Assim, nas páginas finais desta<br />

propedêutica, retomarei os ensinamentos de Ricoer e<br />

Eduardo Portella, esperando demonstrar então a<br />

possibilidade da Semiologia da Literatura realizar com<br />

a Hermenêutica um criador diálogo, uma contribuição<br />

criadora para o entendimento atual do fenômeno<br />

literário.<br />

Quero esclarecer ainda que, ao postular a<br />

possibilidade de uma colaboração entre Semiologia e<br />

Hermenêutica, não é minha intenção comparar o<br />

método de uma Ciência com o de outra. Ambos (os<br />

métodos) possuem, segundo o meu ponto de vista,<br />

qualidades próprias. A experiência de contemplação<br />

da obra tem de abranger os dados visíveis e nãovisíveis.<br />

Esta experiência de contemplação da obra é<br />

um conhecimento (nomenclatura hermenêutica). Não<br />

há como separar forma e conteúdo. Direi ainda, apoiada<br />

em Gadamer: o essencial na experiência estética de<br />

uma obra não é o conteúdo nem a forma, mas a matéria<br />

significada, ou seja, um mundo com a sua própria<br />

dinâmica. Não pretendo comparar dois métodos<br />

científicos, mas admitir que um (o semiológico) pode<br />

colaborar com o outro (o hermenêutico).<br />

HERMENÊUTICA E SEMIOLOGIA: UM<br />

PROBLEMA <strong>DA</strong> CRÍTICA LITERÁRIA<br />

ATUAL<br />

Neste início de século XXI, observa-se um fenômeno<br />

significativo no que concerne à Crítica Literária (aliás,<br />

este fenômeno já é antigo: seus primórdios se localizam<br />

nos anos oitenta): há um impasse de teorias<br />

diversificadas, várias maneiras de se penetrar no<br />

universo do texto, e isto traz, para a Ciência da<br />

Interpretação, a dúvida, quanto a direção a ser seguida,<br />

na realização do trabalho crítico. Ressalte-se o fato de<br />

que todas as teorias convivem nos meios acadêmicos<br />

brasileiros, senão em harmonia total, pelo menos<br />

respeitando-se cordialmente, evitando, assim, as<br />

divergências que existiram nos anos setenta. Nos anos<br />

sessenta, não será demais lembrar, o Estruturalismo<br />

(no que se refere à literatura, ponto de vista analítico<br />

repressor) imperou nas <strong>Universidade</strong>s. Nos anos<br />

cinqüenta, os universitários que se dedicavam ao<br />

estudo da literatura estavam submetidos às diretrizes<br />

teóricas (também analíticas e repressoras) do New<br />

Criticism americano, divulgado aqui no Brasil, pelo<br />

Professor Afrânio Coutinho, com o nome de Nova<br />

Crítica.<br />

Por tais motivos, compreende-se que não há como<br />

escolher um partido teórico único, no âmbito da<br />

Literatura-Arte, se há atualmente a facilidade de se<br />

conhecer cada feição crítica e avaliar-lhe suas<br />

contribuições, em função do desvelamento e<br />

compreensão do texto. Restará ao crítico literário<br />

brasileiro hodierno, antes de fazer uma escolha

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