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Na casa da avó de Rachel continuavam os festejos do aniversário<br />
ocorrido na quinta-feira. As festas de aniversário em Lumeeira duravam<br />
vários dias, começando dias antes da data a ser comemorada e<br />
terminando dias após esta. Geralmente as visitas que vêm de outras<br />
cidades se hospedam na casa do aniversariante e lá permanecem por<br />
algum tempo. Os hóspedes, sem coisa melhor <strong>para</strong> fazer, bebiam e<br />
comiam e, nos intervalos, comentavam a vida alheia.<br />
Não foi difícil <strong>para</strong> Rachel conduzir Tomé <strong>para</strong> a casa da sua avó.<br />
A conversa que travavam não foi compreendida por Tomé. Este, atordoado<br />
e apalermado como um sonâmbulo, seguiu cambaleando com<br />
Rachel, acompanhando-a sem saber <strong>para</strong> quê e <strong>para</strong> onde se dirigia.<br />
Nos momentos de intensas emoções ficamos à mercê de qualquer<br />
estímulo externo, seguimos qualquer ordem sem examiná-la,<br />
pois as ideias internas diretoras da conduta estão prejudicadas. Foi o<br />
que ocorreu com Tomé. Ele entrou na casa da avó de Rachel am<strong>para</strong>do<br />
por ela, sem saber onde estava chegando e <strong>para</strong> que fora ali. Ela,<br />
tendo percebido a incapacidade de Tomé <strong>para</strong> andar, sentiu coragem<br />
<strong>para</strong> passar seus grossos braços, com firmeza, embaixo dos braços<br />
musculosos de Tomé e assim impediu que este tombasse no chão.<br />
Este contato mais íntimo, somado ao odor do perfume adocicado que<br />
saía do corpo de Rachel, o mesmo usado por Zilda, foi a gota d’água<br />
<strong>para</strong> a tragédia que iria ocorrer em seguida.<br />
As recordações deliciosas foram despertadas com intensa emoção<br />
na mente embriagada de Tomé. Ele se lembrou dos braços lisos,<br />
compridos e sedosos de Zilda entrelaçados no seu corpo e do que<br />
acabara de ver no quarto do barracão. Nervoso, confuso pela embriaguez<br />
e pelos acontecimentos, sem orientação, carregando uma mistura<br />
contraditória de desejo e de ódio, ele, desvencilhando-se de Rachel,<br />
olhou-a firmemente apesar de não enxergá-la claramente. N<strong>esse</strong><br />
momento sentiu um branco em sua cabeça, rodopiou em torno de<br />
uma cadeira, segurando-se nas costas desta <strong>para</strong> evitar espatifar-se no<br />
chão diante das visitas que enchiam a sala da casa.<br />
Tomé olhou <strong>para</strong> Rachel e viu agora à sua frente Zilda, sorrindo<br />
com meiguice <strong>para</strong> ele.<br />
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